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Críticas

Sherlock Holmes (2010)

Guy Ritchie moderniza o detetive inglês

Por Luiz Joaquim | 08.01.2010 (sexta-feira)

Há 14 meses, o universo cinematográfico mundial viu voltar à sua velha forma uma de suas revelações dos anos 1990. O inglês Guy Ritchie, após separação da ex-esposa Madonna, deu ao mundo “Rock’N’Rolla – A Grande Roubada” (2008), filme que nos chegou com o mesmo espírito e frescor de seus “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” (1998) e “Snatch – Porcos e Diamantes” (2000). Hoje, chega ao Brasil a adaptação entregue por Ritchie para “Sherlock Holmes” (Ing., 2009), encomendada pela Warner Bros. O resultado é decepcionante.

A surperprodução (a mais cara na filmografia de Ritchie) conta com nomes de peso, como Robert Downey Jr (Holmes), Jude Law (Dr. Watson) e Rachel McAdams (Adler), além de Eddie Marsan, de “Simplesmente Feliz” (como Inspetor Lestrade). É certamente pelo carisma desse elenco que “Sherlock…” não desaba feio no chão.

Não se trata de purismo pela figura do maior detetive da literatura, mas a roupagem modernosa para o cinema dada pelo roteiro de Michael Robert Johnson, Anthony Peckham e Simon Kinberg para o clássico personagem criado por Sir Conan Doyle em 1887 ficou deselegante. Conhecedores do personagem vão entender que deselegante é tudo que Sherlock não pode ser.

Saliente-se que os atores estão aqui como operários padrão. Não há responsabilidade neles para, a certo ponto, o filme tornar-se enfadonho. Filme que se apresentando como um deja vu cinematográfico, diferenciado apenas pelo nome dos protagonistas. Pena Ritchie não ter conversado com Steven Spielberg que produziu o divertido “O Enigma da Pirâmide” (1985), mostrando um Sherlock Holmes adolescente.

De resquícios do Sherlock original, mantém-se o cachimbo, a hábito de tocar (mal) violino, o humor afiado, e a falta de sentimentalismo, o que o afasta das mulheres. Aqui, foi-se seu chapéu tradicional e ressaltou-se seu interesse pelo boxe. Nesse ponto, Ritchie aproveitou para dar o tom da ação em seu trabalho.

A esforço da produção aqui foi aliar a agilidade dos tradicionais diálogos afiados entre Holmes e Watson, além de seu raciocínio dedutivo, com imagens de ação numa época (a Londres do século 19) em que não existia tanta velocidade assim. O resultado é esquisito, para não dizer equivocado. É mais ou menos como se estivéssemos vendo “Clube da Luta” ou “Matrix” na Inglaterra do último período da época Vitoriana. À propósito, o produtor Joel Silver (de “Matrix”), também assina “Sherlock…”.

Do aspécto estético, o que alguns podem confundir como uma intencional atmosfera de sombrio em “Sherlock…”, é na verdade um típico vício de produções (ruins) de Hollywood situadas numa época que não é a nossa. Isso é traduzido na tela aparece em num excesso de imagens escuras, para disfarçar a dificuldades da recriação de ambientes falso, computadorizados. Para piorar, a projeção feita há dois dias para a imprensa do Recife, na sala 2 do UCI/Ribeiro do Shopping Recife, foi uma das com pior luminosidade já vistas. Em alguns momentos, era impossível enxergar o rosto dos atores. Um conselho prático e direto ao leitor é: evitem esta sala para ver “Sherlock Holmes”.

Voltando à produção, a história, totalmente nova criada para o filme, conta que depois de uma série de assassinatos ligados a rituais feitos por Lord Blackwood (Mark Strong), Holmes entra em cena e prende o místico que, condenado à forca, diz como últimas palavras: “a morte é apenas o começo”. Num reencontro com o malígno, Holmes e Watson têm de encarar e repensar suas lógicas em função dos mistérios da magia negra e neutralizar os planos de Blackwood de, claro, dominar o mundo.

Após duas horas e oito minutos de filme, o que fica no espectador é uma história inacreditável (no mal sentido) e a impressão que Ritchie passou do ponto no tom do carinho na amizade entre Sherlock e Watson, sugerindo mais uma velada atmosfera gay entre os dois, que uma forte amizade masculina.

É comum nos filmes de Ritchie ver brincadeiras bastante masculinas, e preconceituosa (mas inocentes), sobre o universo gay, mas em “Sherlock…” algo parece não estar bem resolvido entre a determinação de Watson em se casar, e o desprezo de Holmes por essa idéia – sem falar de sua frieza ao lado da irresistível Rachel McAdams. Estranho.

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