Como Treinar seu Dragão
Na terra da fantasia, vikings vs dragões
Por Luiz Joaquim | 26.03.2010 (sexta-feira)
Então, lá vem mais uma dessas animações que quer aproveitar o lucro do 3D. É uma categoria que agrupa filmes que se recusam a qualquer coisa que não seja arremessar personagens/objetos para fora da tela só porque a tecnologia determina. Mas, talvez o que diferencie “Como treinar seu dragão” (EUA, 2010) seja sua desenvoltura para embalar referências diversas. Nada de renderizar complexidade emocional ou modelar sentimentalismo: este filme revisa a estética de gênero aventura e investe em narrativa 100% hiper ação explosiva para crianças.
Essa concepção de aventura que só parece fazer sentido na terra lúdica do cinema, que remete (e atualiza?) ao clássico capa-e-espada, aparece já na primeira sequência. Enquanto apresenta os personagens e a cidadezinha viking em meio a um ataque de dragões, o jovem Soluço, que combina inabilidade física e inteligência perspicaz, nos explica que a maior praga daquela região é justamente esses bichos com asas que cospem fogo e roubam ovelhas. Só depois dessa introdução cheia de berros e coisas saltando da tela que a obra nos convida a respirar o lugar.
Talvez a referência estética mais forte desta animação (que vem com o selo da Dreamworks, empresa que é adversária natural da Pixar) seja as histórias de Asterix e Obelix, dupla de gauleses que certamente faz parte do imaginário afetivo dos pais que vão ter acompanhar seus filhos a este filme. É de lá que os diretores Dean DeBlois e Chris Sanders certamente confiscaram estilo de caricatura agradavelmente desengonçado, que distorce um braço ou um nariz, ou imagina soldados grandões com perninhas finas e cabeçudos com capacetes pequeninos e bigodes enormes. É possível sugerir que revista de Asterix foi material revisado com certa obsessão na modelagem desses personagens.
O filme conta a história de Soluço, fracote que captura dragão raro e, ao perceber que não consegue matá-lo, começa a observar como ele vive, num tipo de registro etnográfico sobre espécie desconhecida. Papel e caneta na mão porque é hora de aprender. Só que esta é uma vila com curioso costume de enviar esses seres voadores para o além via espadadas, marteladas ou qualquer toco de madeira que estiver por perto. Naturalmente, essa nova amizade não será bem recebida pela pequena sociedade.
Não é preciso muito esforço para perceber as implicações sociais dessa trama, no sentido de sugerir temas como preconceito, repressão ou intolerância contra o que é estranho. O subtexto também fala sobre ser diferente em meio a uma panela de gente que pensa da mesma forma. Duas ideias traduzidas por frases do protagonista, como “Queria ser igual a vocês” e outra ainda mais sintomática: “Tudo que sabemos sobre eles [os dragões]… está errado!”. Aí começa a jornada de aprendizado para nos tornarmos pessoas mais tolerantes com o outro. Então tá.
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