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12o. Bafici (2010) – dia 3

O cinema da brutalidade

Por Luiz Joaquim | 12.04.2010 (segunda-feira)

Buenos Aires (ARG.) – Assim como qualquer filme em que o esquartejamento faça parte do catálogo de imagens, Kinatay tende a causar mistura entre repulsa e admiração. Talvez o que diferencie esta crônica sobre horror urbano de outras trapaças filmadas como “Jogos mortais” ou “O albergue” seja a vontade de alinhar discurso estético com comentário pessoal. Ao invés de usar a brutalidade como recurso para investigar o oba-oba publicitário, o diretor filipino Brillante Mendoza leva ao cinema debate social que normalmente ocupa páginas policiais dos jornais.

A narrativa começa com imagens normalmente achatadas embaixo do rótulo “terceiro mundo”: vemos espaço urbano talvez não muito distante da Avenida Conde da Boa Vista. Em seguida, o filme assume ritmo alegre, que ao final se mostra possivelmente irônico, filmando casamento feliz entre jovens, sendo o marido, Peping, um aspirante a policial.

Depois dessa introdução claramente interessada em observar com olhar quase documental as características de Manila, o filme inicia trajetória rumo ao inferno urbano. Peping é convidado por colega para um trabalho que irá ajudar nas contas do fim do mês, mas depois descobre que essa atividade extra curricular se refere a assassinato brutal de uma prostituta.

Mendoza exibe domínio conceitual da violência em cena, modulando os graus crescentes de enjoo a partir do que decide mostrar ou não. O som abafado de soco na cara é quase tão forte quanto um pedaço de perna jogado no canto de um quarto. O horror físico parece potencializado pela banalidade dos fatos.

Para expressar o embaralhamento moral do protagonista durante essa visita ao submundo, Mendoza estende a duração dos planos até o desconforto, numa manipulação do tempo vazio que parece reforçar suposto mal estar diante do que pode ocorrer. Câmera na mão tremida parece ser instrumento cirúrgico para diagnosticar distopias sociais e banalidade da violência urbana.

Já a violência de At the end of the daybreak parece fazer sentido apenas nos limites do filme de gênero. É obra que reforça não apenas a experimentação quase artesanal do cinema coreano recente, especialista em apagar traçado que separa drama, comédia ou filme policial, mas também o aspecto formal de uma narrativa de cinema.

Yuhang Ho, diretor deste filme curioso sobre repercussões judiciais do sexo na adolescência, narra o absurdo das relações humanas com despreendimento afetivo. Tuck tem 23 anos e namora Ying, 15, garota de ética duvidosa que o filme parece se divertir ao explorar – ambiguidade moral que remete ao filme noir e às mulheres claramente mais espertas do que os homens. Sobra para velhinha carregando bolsa pesada em ônibus lotado e para coleguinha de sala que tem sua intimidade exposta via fofocas. A noite neste filme é longa, violenta e com possibilidade vômito.

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