Chico Xavier: O Filme
Feito para vencer
Por Luiz Joaquim | 02.04.2010 (sexta-feira)
Chico Xavier (nasceu há 100 anos, e faleceu em 2002) era um homem bondoso. Essa é a pedra mais preciosa que existe, logo, a mais difícil de se encontrar no mundo. Sobre isto não há questão. Posta a assertiva, vale o leitor atentar que vamos falar aqui do filme “Chico Xavier: O Filme” (Brasil, 2010), de Daniel Filho, e não do cinebiografado em si, nem de seu legado na doutrina espírita. E Daniel Filho fez o filme por encomenda.
Foi a pedido dos produtores Bruno Wainer, da distribuidora Downtown Filmes – detentora dos direitos do livro de Marcel Souto Maior, “As Vidas de Chico Xavier” -, e também de Rodrigo Saturnino, da Sony Pictures (obra é co-distribuída pela Columbia Pictures, da Sony Pictures). O convite não foi à toa. Não porque o cineasta seja um seguidor dos ensinamentos de Xavier, mas por ser ele hoje o homem que mais levou gente aos cinemas para ver um filme brasileiro – de 1995 até hoje, ele é o responsável pela maior bilheteria da chamada “Retomada” (“Se Eu Fosse Você 2”: 6, 093 milhões de espectadores).
E esses três empresários do audiovisual formam hoje uma trindade de leões no mercado cinematográfico para filme nacionais. Perceber pontecial $$$ em transplantar a história de Chico Xavier para a tela passa pela compreensão de um fenômeno cinematográfico anterior chamado “Bezerra de Menezes: O Diário de Um Espírito” (2008), de Glauber Filho e Joel Pimentel. Fez 431 mil espectadores (a maioria seguidores do espiritismo) com 36 cópias. Agregue-se a isso uma “tendência” e interesse do público na produção nacional por cinebiografias – Cazuza, Olga, Zezé de Camargo e Luciano (e ainda vem por aí Raul Seixas e Renato Russo). Com todos esse ingredientes bem mexidos nesse novo bolo em cartaz, é pouco provável que “Chico Xavier: O Filme” não seja um sucesso de bilheteria.
O FILME – Do ponto de vista cinematográfico “Chico Xavier: O Filme” não é virtuoso, nem acreditamos um dia desejar ter sido. O máximo de sofisticação que temos, do ponto de vista do roteiro, é a condução paralela temporal entre uma sabatina que o médium passou no programa de entrevistas (líder de audiência) “Pinga Fogo”, na TV Tupi em 1971, com algumas fases de sua vida: a infância (interpretado pelo menino Matheus Costa), juventude (Ângelo Antônio) e maturidade (Nelson Xavier, que pediu este papel a Daniel Filho). O plus dramático nessa estrutura é a relação de descrença na doutrina que se estabelece entre Xavier e o ateu diretor do programa (Tony Ramos) com sua esposa (Christiane Torloni).
Os três atores que vivem o médium fazem um trabalho notável com o que lhes é oferecido. Destaca-se, entretanto, a caracterização de Nelson Xavier, indo além de sua boa interpretação e chamando atenção para as semelhanças na aparência e trejeitos físicos. Ao final dos créditos, o espectador poderá fazer a comparação vendo as imagens originais do “Pinga Fogo”. Crentes na doutrina deverão suspirar nesse momento, vendo seu mestre nas imagens históricas (fáceis de encontrar no Youtube).
Já na abertura, um letreiro explica que a intensidade de uma vida não pode ser resumida em duas horas. Nos três períodos tratados, temos a dramatização de momentos essenciais na educação do espírita. Na infância, acompanhamos seu susto e medo pela incompreensão dos outros por ele escutar vozes, e dizer ainda encontrar as mãe (Letícia Sabatella) e madrasta (Giovanna Antonelli) depois de mortas; além do encontro pela primeira vez com seu líder espiritual, Emmanuel (André Dias), que o acompanhará por toda sua vida.
Ângelo Antônio é responsável por mostrar a evolução do protagonista em sua disciplina, a felicidade dos primeiros livros (de um total de 451 escritos e 39 publicados), o reconhecimento nacional e as consequentes desconfianças que sofria, como a da reportagem na revista O Cruzeiro. Já a participação de Nelson Xavier concentra a maior parte durante o “Pinga Fogo”, mostrando um Chico Xavier totalmente à vontade com seu dom.
Sobre as passagens no programa da TV é de chamar a atenção para a direção de arte, reproduzindo o cenário e os bastidores da TV Tupi. Na verdade, o trabalho do diretor da arte Cláudio Amarau Peixoto não foi pouco. Precisou pensar na estética para três períodos distintos (1918-1922 / 1931-1959 / 1969-1975), dando uma unidade visual para o filme inteiro a partir deles.
Apesar do esmero de atores e técnicos, “Chico Xavier: O Filme” não passa, cinematograficamente, de um resultado mediano, que nem estimula o mistério da doutrina espírita além do que já se sabe. É um filme celebração, com um olho no mercado. Apenas isso e, sobre isso, por enquanto, não cabem maiores avaliações.
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