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Críticas

Coração Louco

Um cachorro rabugento em busca de um colo

Por Luiz Joaquim | 16.04.2010 (sexta-feira)

É impressionante a semelhança da estrutura do roteiro de “Coração Louco” (Crazy Heart, EUA, 2009) – filme do diretor e roteirista Scott Cooper, que deu o Oscar a Jeff Bridges -, com “O Lutador” (2008), que não deu o Oscar a Mickey Rourke ano passado. Mas, a lenda da música country Bad Blake (Bridgers), não parece um elefante velho que se retira para morrer, como faz Randy, o astro de luta livre de Rourke no outro filme. Bad se assemelha mais a um cachorrão velho. Um desses vira-latas rabugentos com o qual se esbarra na rua e, ao se olhar para ele, o sentimento projetado fica entre a compaixão e o repúdio.

Assim como Randy, Bad é uma ex-celebridade deprimida e com menos de dez dólares no bolso. Hoje ele circula em boliches e bares, fazendo shows com bandas de ocasião, pelo interior dos EUA. Aos 57 anos, Bad é alcoolatra, tem propensão a ataque cardíacos e câncer. Ou seja, se não regrar sua vida, é morte certa. Bad também foi casado. Quatro vezes. Num deles teve um filho que largou com a mãe há 24 anos.

Entre uma mulher e outra que conhece pelas andanças, uma se aproxima não por ser uma fã de meia idade. É a jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal), interessada em música e querendo entrevistar alguém de quem ninguém mais lembra. Não demora muito para o interesse entre o velho solitário e a mãe solteira ir além do profissional. Mas, não demora também e a condição do protagonista interfere no romance, surgindo um ponto de fissão. O que mais resta a Bad?

Lendo esse argumento, é fácil reconhecer o drama de “O Lutador”. A marca fica mais clara quando prestamos atenção à composição de Bridges para Bad.

Sozinho em sua caminhonete 1978, cruzando os desertos dos EUA, Bad só conta com o amigo Wayne (Robert Duvall, também produtor), um outro decadente dono de um bar, com quem costuma pescar. Com os cabelos desgrenhados, roupa rasgada e copo de whisky sempre a mão, Bad é a própria desesperança personalizada somando-se ao desgosto de ver o sucesso do garoto que ensinou a cantar (Colin Farrell).

Depois de “O Grande Lebowski” (1998), Bridges tornou-se a melhor referência para o rosto do chamado “Looser” (perdedor) norte-americano. Mas, apesar de simpático e bonachão, o perdedor de “Coração Louco” não é relaxado com sua situação. Bad dá corpo às dores, ou as marcas das dores que o fez compor canções clássicas no gênero country, são como as cicatrizes das lutas de Randy. Bad tem história.

Aguardem Bridges ainda em 2010 em algo completamente diferente. Chama-se “Tron Legacy”, é a sequência, quase 30 anos depois (os mais jovens não devem lembrar) de “Tron”, uma ótima fábula em ficção científica que movimentou os cinemas naquele período, com o próprio Bridges.

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