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Entrevistas

Entrevista: Evaldo Mocarzel

Mocarzel: O documentário é a arquitetura do inesperado

Por Luiz Joaquim | 27.04.2010 (terça-feira)

Enquanto apresenta seu novo filme hoje no Cine PE, “Cinema e Guerrilha”, o cineasta Evaldo Mocarzel tem mais outros seis trabalhos em processo de montagem. Em dez anos de carreira, Mocarzel, que já foi editor do Caderno 2, do jornal Estadão, em São Paulo, já assinou 19 obras – filmes normalmente associados a festivais pelo Brasil. O interesse desse realizador parece ser pela guerrilha, pela filmagem com poucos recursos e que usa essa precariedade estética como recurso pessoal. Sua filmografia aponta para um diretor que observa grupos sociais: em “Cinema e Guerrilha”, Mocarzel investiga a relação dos jovens com São Paulo, ecoando a violência e a identidade paulistana. Em entrevista por telefone a Folha de Pernambuco, Mocarzel explicou seu ponto de vista como documentarista, comentou a experiência de participar de um festival com público de três mil pessoas por sessão e adianta seus planos para o futuro.

Seu novo filme se chama “Cinema de Guerrilha”. Você diria que trabalha no campo documental pensando nesse estilo, em cinema de “guerrilha”? Como é sua relação com o documentário?
Graças às novas tecnologias digitais, há possibilidade de produzir documentários estilo guerrilha. Alguns dos meus filmes mais emergenciais foram feitos assim. No caso deste mais recente, fiz com Mini DV, registrando uma oficina na zona leste de São Paulo. O documentário é a arquitetura do inesperado, você trabalha muito com acaso. Em “Cinema e Guerrilha”, a precariedade técnica se torna linguagem. O excesso de mise en scène pode comprometer o filme como representação do real. Mas cada projeto é um projeto. “Cinema de guerrilha” tem narrativa 70% obsevacional.

E o que pode adiantar sobre o trabalho?
Fiz filme chamado “Jardim Ângela”, que foi a primeira oficina de documentário que ministrei nesse bairro de São Paulo, região mais violenta do estado. Resolvi filmar os encontros, e isso virou um filme precário em termos técnicos, mas com grande força documental. O filme era a representação dos jovens, que discutiam o lugar onde moram e a violência. Nesse sentido, “Cinema de Guerrilha” é um passo adiante. O documentário usa essa mesma estrutura. Está numa camada mais profunda desse debate da representação da periferia dentro do documentário.

O Cine-PE já exibiu filme seu. Como é ter uma obra assistida por mais de duas mil pessoas?
Tem muito filme em sessão comercial que não chega a esse número. O grande diferencial do festival é justamente esse público. Uma das grandes emoções da minha carreira foi quando “Do Luto à Luta”, que ganhou prêmio em 2005, foi exibido. Essa sessão foi muito forte para mim. Se existe algum tipo de gratificação para o realizador, é um momento como aquele, que justifica todo o esforço que há em fazer filme.

Você já acumula vários trabalhos em intervalos pequenos. Essa rotina de alguma forma prejudica o trabalho de divulgação de cada projeto?
Seria mais fácil a divulgação de um único projeto, mas cinema é processo muito demorado. Se você ficar preso a um trabalho acaba vulnerável. Fui fazendo filmes, filmei 19 projetos em dez anos. Acho que determinados assuntos ou você faz no calor emergencial da hora ou não faz. Nesse momento, estou montando outros seis trabalhos. Montagem para mim é algo demorado, o filme precisa decantar durante esse processo.

O que você pode adiantar desses novos projetos?
Um deles se chama “Assombrações”, em que filmei peça do autor Newton Moreno, baseada no texto de Gilberto Freyre. Fiz registro do espetáculo no Armazém 14, agora a peça está eternizada na linguagem do cinema. Filmei a apresentação dos atores nas ruas do Recife. Documentei o Recife Antigo, as fantasmagorias do bairro. Agora estou editando. Como disse, gosto de decantar filme, não quero apressar a montagem.

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