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Reportagens

Resultado Ary Severo, Firmo Neto 2010

Fundarpe divulga melhores roteiros

Por Luiz Joaquim | 21.04.2010 (quarta-feira)

Fazer cinema no Recife é também trabalho de incertezas. Juntar dinheiro para transformar roteiro em imagens é barreira. Nesse sentido, o concurso de roteiros Ary Severo / Firmo Neto, que chega a 11ª edição, aparece como bônus bem vindo. O resultado, divulgado em coletiva de imprensa ontem, selecionou os projetos “Sem coração”, de Nara Barreto e Bruno Ferreira Bezerra (Tião), “O Ex-mágico da taverna minhota”, do roteirista estreante Olímpio Gonçalves Costa, e “Câmara escura”, de Marcelo Pedroso, entre os 45 participantes.

Como prêmio, a disputa, idealizada em conjunto entre a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e a Prefeitura da Cidade do Recife, divide R$ 240 mil entre os três roteiros (R$ 80 mil para cada), a serem destinados a realização de curta-metragem. Os três filmes selecionados apontam para a pluralidade da cinematografia recente de Pernambuco. “Foram escolhidos uma ficção (Tião e Nara), um documentário (Pedroso) e uma animação (Olímpio). Isso mostra um pouco a diversidade da produção local”, lembrou Carla Francine, coordenadora de audiovisual da Fundarpe.

“O trabalho de Olímpio foi consenso na nossa seleção. Todos concordaram que merecia. São desenhos muito bem feitos, num roteiro pensado, bem formatado”, explicou Alice Gouveia, professora do curso de cinema da UFPE, que foi jurada ao lado dos escritores Sidney Rocha e Homero Fonseca e das cineastas Amanda Mansur e Clara Angélica. “O texto de Tião e Nara era delicado, mostra certo amadurecimento da linguagem, as imagens pareciam sair do texto. Já o de Pedroso é mais uma investigação pelo documentário”, apontou Alice.

Para confirmar o interesse da Fundarpe em destinar recursos para obras artísticas em Pernambuco, Luciana Azevedo, presidente da Fundação, reforçou o papel do órgão como auxiliador dos artistas de Pernambuco. “O poder público não produz cultura, isso é papel do tecido cultural”, falou Luciana. “Nosso papel é potencializar o instinto criativo do povo pernambucano. Precisamos que todos entendam nosso papel de co-gestão dentro da dinâmica cultural”, ressaltou Luciana.

Um dos pontos do concurso destacado na coletiva é a oportunidade de incluir jovens estudantes no processo de filmagem dos curtas. É atitude que implica no amadurecimento do olhar dos jovens de escolas públicas, a partir do contato direto com os processos de realização. “Nossa ideia é propor aos alunos que integram os projetos da prefeitura do Recife o contato com as filmagens dos curtas”, explicou Carla Francine. “Mas isso depende de como os realizadores vão se relacionar com os estudantes. Os alunos não têm obrigação de trabalhar, é apenas um incentivo para o aprendizado deles”, ressaltou Luciana Azevedo.

Veteranos ganham prêmio
Esta edição do Ary Severo / Firmo Neto selecionou dois cineastas veteranos no concurso. Marcelo Pedroso, que já ganhou prêmio pelo documentário “Balsa”, e Tião, que venceu pelo roteiro de “Muro” (curta que conquistou prêmio em Cannes, na seção “Um novo olhar”), estão entre os três cineastas contemplados.

Os dois realizadores concordam sobre a importância da disputa do Ary Severo na dinâmica de produção em cinema do Recife. “É muito bom ver concurso de roteiro focado na obra, não no currículo prévio do cineasta. Essa característica é essencial para crescimento de um ambiente cultural”, ressaltou Tião.

Sobre seu filme, Tião adianta que é uma ficção sobre a relação entre três adolescentes. “A história se passa no litoral e narra a amizade entre três jovens, dois que moram nessa região e um que veio da cidade durante as férias. Nara trouxe essa história, que possui muito da experiência pessoal dela na criação dos personagens pescadores. Tem algo meu também, porque quase sempre vivi em prédios”, explicou o realizador.

Já Marcelo Pedroso, que venceu com texto que sugere filme que não encerra seu conceito num roteiro cartesiano, chama a atenção para o cuidado da seleção. “Fico feliz em ter ganho. No meu filme, vou lidar com o acaso, com fatos que não sei como vão ocorrer. O Ary Severo / Firmo Neto mostrou sensibilidade ao premiar um projeto assim. É um filme longe da zona de conforto, me jogo numa busca que não sei aonde vai dar. Mas é algo que mesmo assim está bem amarrado em termos de conceito, com premissa bem definida”, defende o cineasta.

No roteiro de “Câmara escura”, mais uma reflexão de Pedroso sobre o olhar documental depois de “Balsa” e “Pacific”, o cineasta trabalha a partir de uma narrativa aberta para a experimentação e longe das certezas. “É um filme que se insere nessa linha de busca dentro do documentário. Quero investigar novas fronteiras, mas não essa entre a realidade e a encenação. Acho essa uma pesquisa meio datada, algo fértil, mas que já foi muito explorada em outros filmes”, adianta Marcelo. “Me interesso agora investigar como as pessoas se constituem como sujeito diante da câmera, mas partir de outros contratos, que não são pautados pela observação ou pela entrevista”, conclui o diretor.

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