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Críticas

Utopia e Barbárie

Documentário reflete o mundo pós-Segunda Guerra

Por Luiz Joaquim | 23.04.2010 (sexta-feira)

Como contar uma história tantas vezes já contada sem parecer um repetição? Este talvez fosse apenas um (talvez o menos importante) entre tantos desafios que o cineasta Silvio Tendler se deparou ao se debruçar sobre o projeto que o acompanha há 19 anos: “Utopia e Barbárie” (Bra., 2010), hoje em cartaz no Cinema da Fundação.

E Tendler, já na abertura, provoca seu próprio resultado estampando uma máxima do cineasta Chris Marker: “Não há filme de guerra enquanto não houver cheiro no cinema”. Nos 120 minutos seguintes, o documentarista tenta mostra e compreender a dinâmica que vem movendo o mundo pós-segunda guerra. Dedicado a Ernesto (seu neto, e não o Che Guevara), Tendler tenta vislumbrar para vai o mundo em que seu neto viverá.

Contado em primeira pessoa, “Utopia e Barbárie” revela a percepção de mundo que o diretor tem desde a infância, quando era apenas menino numa família classe média em Copacabana, até os dias de hoje, como um homem que vivenciou o orgasmo histórico que o planeta gozou em 1968, e o viu revolucionar-se socialmente a cada nova década. Não à toa, o subtítulo do filme é “Histórias das nossas vidas ou ter 18 anos em 1968”.

Com depoimentos de políticos (Dilma Rousself, Franklin Martins), cineastas (Amos Gitai, Cacá Diegues, Denys Arcand, Francesco Rosi), escritores (Ferreira Gullar, Eduardo Galeano), poetas e dramaturgos (Zé Celso Martinez, Augusto Boal), historiadores, militares, economistas, filósofos e teólogos (Leonardo Boff). jornalistas e fotógrafos (Evando Teixeira, Carlos Chagas) e outros, Tendler vai tecendo uma teia de conexões pela qual a memória de todos eles vai moldando um retrato de como o ideário de um “mundo melhor” foi se metamorfoseando ao longo dos anos.

Ilustrando as memórias (inclusive às do próprio diretor), estão fotrografias, imagens de arquivos e sequências de filmes que já visitaram o tema ou procuraram refletir sobre ele. É o caso do trecho de “As Invasões Bárbaras” (2003), no qual intelectuais reveem o século 20 se perguntando por quais “ismos” faltaram passar depois do marxsismo, leninismo, socialismo, imperialismo, liberalismo, feminismo, capitalismo e consumismo.

Com narração de Letícia Spiller (!?), Chico Diaz e Amir Haddad, “Utopia e Barbárie” brinca com as datas 68 e 89, lembrando que o último ano foi o da maior brochada do século por conta da eleição de Fernando Collor de Mello a partir do voto de um despreparado eleitor brasileiro.

Mas o assunto aqui é mesmo o que restou daquelas utopias do passado, e o que esse resto fará por nós e para onde nos levará. Tendler não dá nenhum resposta, apenas relembra as cartas que estão postas na mesa para nós.

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