Criação
Um homem religioso entre Deus e a ciência
Por Luiz Joaquim | 17.05.2010 (segunda-feira)
A parte chata em ver um bom filme filme na Sessão de Arte do Grupo Severiano Ribeiro é, depois, você indicá-lo aos amigos e ouvir deles, “Que pena, não vou poder ir assistir nesse horário”. De modo que “Criação” (Creation, Ing., 2009), de Jon Amiel (mesmo de “Copycat”, 1995) em cartaz até quinta-feira, apenas às 19h30 no Shopping Recife, precisaria de tempo para respirar melhor na grade da programação normal e daí seu público descobri-lo.
O filme tem como atrativo número um a ansiedade vivida por Charles Darwin (1809-1882) nos 12 meses antes de publicar sua maior obra, o livro “A Origem das Espécies” (1859), pelo qual defendia a evolução dos animais a partir de um ancestral comum, pela seleção própria da natureza. Sua ansiedade vinha, pelo filme, em torno de três questões.
Uma delas diz respeito a revolução, pela perspectiva científica, que seu livro traria para a sociedade. Lançar no século 19 a teoria de que o homem descendia do macaco e que Deus não foi seu criador, conforme dizia o Livro Sagrado há quase dois mil anos, era algo pontecialmente tentador aos cientistas da época, mas perigosamente assustador para um homem que vivia sob os preceitos do cristianismo, como era o caso de Darwin.
“Criação” sugere que Darwin protelava a publicação do projeto que vinha desenvolvendo há 20 anos muito por respeito a esposa Emma (Jennifer Connelly), uma cristã fiel. A idéia de ir para o inferno por desrespeitar a Igreja não era tã absurda naquele momento, e Emma não suportava a idéia de ir para o paraíso com Charlie no inferno. A terceira questão, e a que o filme melhor se debruça, relaciona-se com a perda de sua primogênita Anne (ótima Martha West), que morreu doente, aos dez anos de idade.
Apesar de amar os outros três filhos menores, o filme explicita, por flashbacks, que Charles via em Anne sua verdadeira evolução. Ao contrário dos irmãos, Anne enxergava (explorava) o mundo como o próprio pai fazia. Perdê-la o colocou em depressão e o fez pôr na berlinda sua fé. No processo, Charles reviu seus valores religiosos e ganhou fôlego para seguir com sua ciência. O caminho, entretanto, quase lhe custou a sanidade. É um belo filme sobre amor paterno, amor conjugal, amor próprio, e também sobre a ciência – nessa ordem.
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