Quincas Berro D’Água
Sérgio Machado afinado com Amado
Por Luiz Joaquim | 21.05.2010 (sexta-feira)
Por que é tão difícil adaptar cinematograficamente as obras de Jorge Amado (1912-2001)? São várias as razões, tanto quanto são várias as ferramentos de perssuasão na linguagem cinematográfica. Mas, certamente, a personificação dos atores transformados nos personagens do autor baiano é uma grande responsável pelo sucesso ou insucesso do filme. No caso de “Quncas Berro D’Água”, (Br., 2010), de Sérgio Machado, estreando hoje nos multiplex, é o elogio que cabe ao comentá-lo.
Exibido, e celebrado, no 14º Cine-PE, em caráter hors-concours, “Quincas…” mostrou um Sérgio Machado extremamente à vontade com: 1) o universo de Amado; 2) com os anseios do espectador; 3) e com a idioma fílmico. É claro que neste último o cineasta já havia destilado seu refinamento como diretor em “Cidade Baixa” (2005) e “Onde a Terra Acaba” (2001).
Acontece que em “Quincas…” vemos a desventuras do recém-falecido Quincas Berro D’Água (Paulo José) correndo numa dinâmica de situações que se desenrolam orgânicamente, dando ao todo do filme uma unicidade e credibilidade rara nas atuais comédias brasileiras – normalmente centradas na estupidez de um sexismo rasteiro.
Criado por Amado em 1961, o morto (e consciente) Quincas tem seu corpo disputado entre as putas (Marieta Severo), os bêbados e malandros (Flávio Bauraqui, Luiz Miranda, Irandhir, Frank Menezes), e sua filha com seu genro (Mariana Ximenes e Vladimir Brichta). Na peleja, Quincas é carregado por toda o enredo entre velórios, botecos e os carnavais das ruas de Salvador. Nesse contexto, se trouxesse odor, o filme de Machado seria ainda mais fiel às representações da Bahia boêmia, como só Amado sabia descrever.
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