O cinema criado por Kleber Mendonça Filho
Retrospectiva Kleber Mendonça Filho
Por Luiz Joaquim | 08.06.2010 (terça-feira)
Se fossemos contar em voz alta a quantidade de prêmios recebidos pelos filmes do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, iríamos passar mais de um minuto e meio falando sem parar. Todos esses troféus recebidos no Brasil, França, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Finlândia, Irlanda, Suécia e República Tcheca, entre outros, é apenas um reflexo da extrema qualidade que o também crítico de cinema vem aplicando ao longo de uma carreira como realizador que retomou em 2003.
Hoje (8-6-10), às 20h no cinema São Luiz, o recifense finalmente poderá ver, pela primeira vez, uma coletânea de seus curtas-metragens realizados (ou apenas finalizados) em película 35mm. É uma chance raríssima para entender o que conecta e o que individualiza cada um dos cinco filmes programados: “A Menina do Algodão” – co-dirigido por Daniel Bandeira (2003), “Vinil Verde” (2004), “Eletrodoméstica” (2005), “Noite de Sexta Manhã de Sábado” (2006) e “Recife Frio” (2009).
Curioso é que Kleber já recebeu três mostras retrospectivas de suas obras no exterior: no 10° Festival de Cinema Luso-Brasileiro, em 2006 – quando o texto de apresentação foi escrito pelo professor doutor em cinema João Luiz Vieira; em Roterdã, Holanda (2008), dentro do Filmmaker Focus; e a última há três meses, em Toulouse, na França. “Em Portugal, a cultura é de certa forma próxima da nossa, mas na Holanda, eram sessões curiosas. Era estranho assistir um filme feita na rua em que moro no Recife sendo visto por uma plátéia quase que toda de nórdicos”, recorda Kleber.
Daquela experiência ela recorda de um comentário feito por um senhor sobre seus filmes. “Ele dizia que eram obras universais, mas também eram alienígenas por conta dos mecanismo de relacionamento em nossa sociedade, o medo que temos do outro. Ele perguntou, por exemplo, se as grades vistas nas casas em ‘Eletrodoméstica’ tinha sido providenciadas pela produção do filme”, lembra Kleber.
Sobre sua primeira retrospectiva no Brasil, Kleber acredita que aqui no Recife a leitura dos filmes em conjunto pode ser positiva de outra maneira – com a compreensão de detalhes que nunca seriam captados no exterior. “Lá fora, as diferenças culturais geraram forças que funcionam diferente no Brasil”, aposta o cineasta.
A respeito do que será visto hoje à noite, o espectador pode esperar emoções e sensações sugeridas pelos cinco filmes como medo, ternura, responsabilidade, relaxamento, saudade, impotência e uma poderosa reflexão sobre a postura social e urbanística que temos no Recife.
Vale lembrar que a obra de Kleber não se resume a estas obras. Ele tem também no currículo um documentário em longa-metragem (“Crítico”) e diversos filmes feito em vídeo – hoje seriam rebatizados como ‘cinema digital’, mesmo porque o realizador sempre foi fiel a linguagem cinematográfica, ainda que empunhando uma filmadora VHS. É bom registrar também que no próximo mês, Kleber começa a rodar seu primeiro longa-metragem de ficção, “O Som ao Redor”.
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