A guardiã do teatro, no cinema
Geninha da Rosa Borges relembra sua participação em O Coelho Sai
Por Luiz Joaquim | 31.08.2010 (terça-feira)
Que a grande dama do teatro pernambucano foi Diná de Oliveira (1907-1998), ninguém questiona. Mas ninguém discute também que, entre nós, temos sua sua herdeira mais talentosa: Geninha da Rosa Borges. Poucos atentam, porém, que Geninha – que ano que vem completa 70 anos de carreira no teatro (um recorde?) – é também um personagem vivo na história do cinema pernambucano.
No livro “Dicionário de Filmes Brasileiros”, de Antônio Leão da Silva Neto, por exemplo, há o registro de uma tal de Geninha Sá encabeçando o elenco de um certo filme chamado “O Coelho Sai”. Para quem não conhece, o longa-metragem foi rodado em 1939 e lançado em 1942, sendo co-dirigido por Newton Paiva e Firmo Neto; tendo sido fotografado por este último.
Mítico, “O Coelho Sai” é lembrado por ter sido o pioneiro filme no Estado a ser realizado com som. É lembrado também pelo triste registro de ter sido totalmente queimado num incêndio, sendo hoje impossível de resgatar suas imagens. O que há de concreto está na frágil lembrança daqueles que nele tiveram parte, como Geninha Sá, ou melhor, Geninha da Rosa Borges, ou melhor, Maria Eugênia Franco de Sá da Rosa Borges, hoje aos 88 anos, e à época das filmagens, aos 17.
“Eu já conhecia o Firmo antes de ‘O Coelho Sai’ e quando ele me convidou eu não sabia se aquilo ia dar certo, mas claro que aceitei fazer”, recorda, hoje, com dificuldade a atriz. Geninha também lembra que foi por ocasião da produção que conheceu Maria Lia, atriz com quem contracenou no filme, e que viria a ser a mãe do respeitado advogado José Paulo Cavalcanti Filho.
“A gente atuava junto num número em que meu personagem encontrava o avô e ele me dava uma caixa de presente. Quando eu abria essa caixa, as coisas que eu desejava saíam dali e nós começavamos a dançar. Eu dançava muito com Maria Lia”, conta Geninha. Uma das composições divertidas que a atriz lembra com saudade chamava-se “Gostoso, gostosinho, gostosão”, feita por Nelson Ferreira, a quem Geninha se refere simplesmente como Nelsinho.
Conforme registrado em livro por Celso Marconi, o filme era um drama típicamente ligado ao perfil do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), com vários números musicais e apresentando as paisagens recifenses. Foi feito a partir de cotas dos amigos, sob produção da Meridional Filmes. A respeito dos bastidores, o que permanece vivo na memória de Geninha é a onipresença de Firmo Neto por trás da câmara. “Eu ficava impressionada com ele, que sabia tudo e tudo fazia naquele negócio lá. Ele dirigia, fotografava, e cuidava do som”, diz. E sobre as locações, apesar do esforço para lembrar, Geninha apenas arrisca que algumas cenas do musical foram feitas na sede do Clube Náutico Capibaribe e em alguns restaurantes chiques da cidade.
Passada a aventura de “O Coelho Sai”, a atriz só viria a aparecer no cinema mais de quatro décadas depois, em “Parahyba Mulher Macho” (1983), de Tizuka Yamasaki, rodado no Recife. No cinema pernambucano, ela torna a aparecer em “O Baile Perfumado” (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, e nos curtas “O Pedido” (1995), de Adelina Pontual, e “A Partida” (2002), de Sandra Ribeiro, no qual interpretava a avó do personagem de Paulo Autran (1922-2007) quando jovem. “Já fazia tempo que eu queria trabalhar com o Paulo, que era meu primo, e quando chegou esse roteiro nos aceitamos logo, mas aconteceu que a gente não contracenava juntos. Era eu aqui e ele lá em São Paulo. E ele ainda telefonava para mangar de mim, me chamando de vovó”, encerra Geninha, nos dando sua encorpada e contagiante risada.
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Filmografia de Geninha da Rosa Borges
O Coelho Sai (1939), de Firmo Neto e Newton Paiva
Parahyba Mulher Macho (1983), de Tizuka Yamasaki,
O Baile Perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas
O Pedido (1995), de Adelina Pontual
Cinquenta e Cênicos Anos de Teatro (1996), de Pedro Oliveira
Memorial de Maria Moura (2000),
A Partida (2002), de Sandra Ribeiro,
Nós Sofre mas Nós Goza (2002), de Sandra Ribeiro
O Teatro a A Música de Valdemar de Oliveira, 2002, de Sandra Ribeiro
Olegário Mariano (2003), Marcelo Peixoto
Da Cor do Pecado (2004), novela da Rede Globo de Televisão
O Retrato da Menina Geninha, de Silvana Marpoara e Tatianne Quesado
Benvindo Dias, da ADCE Produções
Pernambuco: Raiz Antenada para O Mundo, de Toni Venturi
Nada Além, de Osman Godoy
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