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Críticas

A Origem

Abra a sua mente

Por Luiz Joaquim | 06.08.2010 (sexta-feira)

O diretor Chistopher Nolan tem 40 anos e nove filmes – entre eles “Batman Begins” e “O Cavaleiros das Trevas” que juntos renderam quase 740 milhões de dólares, isso só nas bilheterias dos EUA. Esta introdução já dimensiona a importância do homem para Hollywood. Mas Nolan conquistou prestígio também pelos seus roteiros mirabolantes (alguns com mirabolâncias em excesso), como “Amnésia” e “Insônia”. Como 2 2 = 4, fica fácil entender o bafafá das pessoas e da crítica em torno de “A Origem” (Inception, EUA, 2010), novo trabalho de Nolan estreando hoje no País, com Leonardo DiCaprio encabeçando elenco estelar.

Mas sobre a excitação popular, e mesmo a de alguns críticos, para esse caso vale lembrar um sábio ditado popular (são sempre sábios) que diz: “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”. Em outras palavras, a dieta que é servida nos multiplex é por ano, vá lá, cerca de 95% fraca em calorias cerebrais. Quando temos um produto hollywoodiano que obriga o espectador a pensar ainda durante a projeção do filme, este começa a brilhar mais do que sua chama permitiria se estivesse num cenário diferente deste escuro, que é o dos complexos de cinema.

No caso de “A Origem”, Nolan, também roteirista, chama a atenção para aquele universo que “vivemos” nos nossos sonhos. No nossos literais sonhos. Aqueles que temos enquanto dormimos. É lá que o expatriado americano Cobb (DiCaprio) se infiltra para descobrir informações que podem ser úteis para outras pessoas. É esse seu trabalho.

Quando o empresário Saito (Ken Watanabe) contrata Cobb para entrar nos sonhos de seu concorrente Fischer (Cillian Murphy) e inserir uma idéia que vai desfascelar seu império, Cobb titubeia. Afinal, como o próprio Cobb diz, implantar uma idéia é quase impossível pois “uma única ideia na mente humana pode construir cidades inteiras. Uma ideia pode transformar o mundo e reescrever as regras”. Ou seja, é o mais complexo virus para infectar o homem.

Posta a situação, Nolan ainda desenvolve em paralelo um segundo vértice que vai em outra direção. A do amor de Cobb pela falecida esposa Mal (Marion Cotillard). Como uma assombração, Mal sempre aparece no “trabalho” do ladrão de sonhos, enquanto ele está “dentro” da cabeça de alguém. É por isso que para este novo sofisticado trabalho de inserção (título original do filme), além de seu fiel produtor Arthur (Joseph Gordon-Levitt), ele se cerca de outros profissionais como uma arquiteta (Ellen Page), um químico (Dileep Rao) e um falsário camaleônico (Tom Hardy).

Entre as várias artimanhas dramáticas de Nolan criadas para esse novo universo de ação está a idéia por trás do que seria a morte num sonho. Como se sabe, ninguém vivencia a própria morte no próprio sonho (e isso é reforçado logo na abertura do filme). Sendo assim? Qual poderia ser para os personagens o maior temor num filme de ação se a maior punição, historicamente pelos olhos de Hollywood, é ser assassinado à bala?

Essa resposta está lá vinculada a outro tratamento que Nolan cria a respeito do sonho dentro do sonho. Nessas camadas, a sensação do passar do tempo corre diferente e é aí que seu roteiro cresce, não só na idéia, mas também como recurso de montagem.

Há em “A Origem”, entretanto, um caminho que os dois vetores – o da ação e o do amor – caminham para o mesmo ponto. O ponto habitual de qualquer produção hollywoodiana. É possível também identificar psicologia barata travestida de sofisticada quando por exempo a arquiteta explica para Cobb: “sua esposa só persiste nos seus sonhos porque você se sente culpado pela sua morte”.

Alguns efeitos especiais que também soam genialmente novo são nada mais que uma releitura violenta para algo que foi usado para a ternura. Se duvidam, ao ver a luta de Joseph Gordon-Levitt num hotel sem gravidade em seu interior, tentem lembrar de Fred Astaire em “Núpcias Reais”, feito em 1951 por Stanley Donen. Enfim, ao ir assistir “A Origem”, abra sua mente, mas cuidado para não se lambuzar; e se dormir na sessão, cuidado com DiCaprio.

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