Celso 80
Cineasta e jornalista aguarda recursos para lançar DVD
Por Luiz Joaquim | 23.08.2010 (segunda-feira)
Hoje é dia de festa para o cinema e o jornalismo cultural pernambucano uma vez que um de seus ícones completa 80 anos. Ele é Celso Marconi, cujo trabalho como crítico de cinema pode ser revisto pelos seus livros “Obra Jornalística de Celso Marconi” (2000) e “Super 8 e Outros: Cinema Brasileiro” (2002). Como cineasta, sua produção poderá ser revista – e descoberta por toda uma nova geração – quando o realizador lançar em breve o DVD duplo “O Cinema de Celso Marconi”.
Nos dois discos, Em seis horas e 40 minutos, divididas em 22 filmes – boa parte feito em Super-8 nos anos 1970 e alguns em vídeo -, Celso resgata aquele que é o seu principal discurso como cineasta. E é ele próprio quem explica, num depoimento gravado no Morro da Conceição para o disco 1. Nele, Celso conta que o seu cinema tem uma ligação direta com a realidade popular e com ele quer transformá-la para uma realidade melhor.
“Não é um cinema pelo cinema, é um cinema que serve. Mesmo sem técnica aprimorada, ele quer documentar. É como um antropólogo que chega numa aldéia e documenta o que se apresenta para seu estudo, mas não com distanciamento, mas sim com participação”, reflete para a câmera enquanto caminha pelas escadarias do Morro.
Ainda na apresentação do primeiro DVD, seu amigo a mais de cinco décadas, o mestre alucinante alucinado Jomard Muniz de Britto, conta da influência de Celso em sua vida e dos caminhos profissionais do jornalista desde a época em que escrevia para o jornal comunista “Folha da Manhã”, nos anos 1960, quando assinava como João do Povo, até o período em que lecionou na Universidade Católica nos anos 1990.
Um outro depoimento bastante lúcido nesta apresentação é o do jovem jornalista e produtor cultural Sérgio Souza Dantas. Ali, Sérgio faz uma correta reflexão sobre três características que marcam a obra do diretor: a naturalista, a antropológica e a experimental. Pelo aspécto naturalista, o produtor destaca a forma como Celso posiciona a câmera e a movimenta semelhante ao olhar de uma pessoa curiosa diante de seu objeto, pessoa ou tema.
Do ponto de vista antropológico, está bastante marcado o interesse do documentarista em tratar as pessoas e eventos sociais que falam de aspectos e rituais religiosos, além dos artistas populares. Como exemplo, Sérgio cita os filmes “Morro da Conceição”, “Dona Betinha” e “Ana das Carrancas”. Pelo experimentalismo, o que sobressai são os textos poéticos e engajados politicamente, marcado por performances com pessoas diante da câmera.
“O filme ‘Terra Ying’ é um exemplo, quando ele usa a música de Caetâno Veloso fazendo uma analogia entre uma mulher grávida e a terra arada e tratada”, explica Sérgio, que também cita “Recife 0 Km”, sobre a degradação dos prédios no bairro do Recife Antigo já no final dos anos 1970, tendo como performers artistas do Movimento Super-8.
O projeto “O Cinema de Celso Marconi” foi aprovado pelo Sistema Municipal de Incentivo a Cultura da Prefeitura do Recife em 2008 e está pronto. As cópias do disco foram feitas em Paris e aguarda apenas apoio financeiro para o material chegar ao Recife e ser lançado. Esperamos que o aporte chegue logo, assim como os DVDs cheguem ao Recife, para a cidade comemorar os anos 80 anos do cineasta assistindo sua obra cinematográfica.
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