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Críticas

Mademoiselle Chambon

Amor e traição à francesa

Por Luiz Joaquim | 23.08.2010 (segunda-feira)

Dentro desse gênero amplo e variado de filmes sobre dramas familiares, o sexo é em geral arma duvidosa, um tipo de alerta para risco evidente que causa dores físicas e/ou emocionais nos parceiros envolvidos. No caso do filme francês “Mademoiselle Chambon” (França, 2009), um desses longas-metragens que acaba empoeirado na prateleira “drama adulto” das locadoras, esse argumento é explorado em narrativa que tenta reverter a ordem dos padrões tradicionais.

Nosso imaginário parece catalogar os filmes franceses em geral como pequenos dramas intimistas, com personagens fumantes boêmios passando por conflitos existenciais, filmados em preto e branco. Em certo sentido, “Mademoiselle Chambon” foge desse estereótipo baseado em postulado popular de fragilidade acentuada e encara personagens comuns, profissionais que têm trabalhos banais e aparência esquecível.

A história narra a vida mundana e sem maiores ataques de aflição de Jean, um pedreiro. Ele é casado com Anne-Marie, empacotadora, e eles têm um filho. Já na primeira cena temos a impressão de boa família feliz, quando vemos os três num parque resolvendo problemas de gramática do garoto.

É um filme que parece se afastar um pouco dessa suposta marra intelectual e pretende trazer os personagens para o terreno do dia a dia. Além desse casal, o terceiro ponto do triângulo amoroso inclui uma professora de turmas infantis. Nenhum parece representar características maniqueístas, do tipo bom ou mau, mas personagens que frágeis que reavaliam suas relações com olhar crítico.

Outra quebra de expectativa vem da própria seleção de atores. Podemos perceber interesse prévio por pessoas de aparência comum, do tipo que você talvez não olharia duas vezes quando encontrasse nas ruas. Isso parece localizar este filme como algo próximo a uma crônica do cotidiano, uma pequena história desgastada sobre sexo, traição e vida conjugal, que evita entrar nas implicações psicológicas dessa situação.

Nesse sentido, é um filme que configura seu desenvolvimento a partir de pequenos indícios de tensão. Olhares ambíguos, palavras duvidosas e desilusão contida colocam esse drama de alta voltagem emocional como obra discreta, detalhe curioso por ser material cuja descrição rápida sugere longa-metragem de imensidão dramática. A cena de maior urgência emotiva é filmada com certa frieza e respeito, sem palavras, com lágrimas ocasionais e distanciamento afetivo.

Talvez o maior incômodo seja a ausência de uma personalidade mais evidente, que se apropria de uma história em certo sentido tradicional para propor investigações pessoais. O diretor é Stéphane Brizé, cineasta que nunca saiu do circuito francês e emula aqui um olhar feminino pouco generoso com a fé de que tudo vai dar certo e os finais sorridentes.

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