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Críticas

Wall Street 2

Crônica sobre a crise econômica

Por Luiz Joaquim | 24.09.2010 (sexta-feira)

Diferente de certas continuações, baseadas talvez no apelo nostálgico ou na possibilidade ampla de retorno financeiro, “Wall Street 2: o dinheiro nunca dorme” tem a vitalidade de um projeto cujo tema teve na realidade sua motivação maior.

O primeiro filme, de 1987, falava sobre a escalada de um homem comum ao inferno burocrático, financiando a perdição em prestações infinitas com juros acumulados e prazo vencido. O universo da classe alta, das festas de grande porte e dos prazeres de preços elevados, foi registrado como um manifesto político e econômico da condição social emergente dos EUA.

A crise econômica recente parecia de alguma forma insinuada na forte carga de hipocrisia e acidez do filme original. Nesse sentido, essa sequência parte do interesse de continuar a investigação da mecânica do sistema capitalista norte-americano e de como esse caos de proporção mundial foi efetuado em especulações diárias e negociações escusas.

“Wall Street 2” continua onde o primeiro filme terminou. Gordon Gekko (Michael Douglas) acaba de sair da prisão e recupera os objetos pessoais apreendidos em 1987: um anel de ouro, um porta dinheiro de ouro e… um telefone celular dos anos 1980, algo como um tijolo com antena. Temos aqui a adaptação para o contexto atual, de computadores baseados em MS-DOS para um Mac, além do panorama contemporâneo da informação on-line e em tempo real.

Gekko tenta se aproximar da filha, que o culpa pelos crimes do passado, e do futuro genro, Jake (Shia LaBeouf), um pequeno empresário que tenta “fazer a diferença” num mercado em que a distinção se conquista eliminando a concorrência. LaBeouf é a jovem aposta da indústria norte-americana para a transição entre a velha e a jovem guarda, papel que ele também interpretou na quarta edição da franquia Indiana Jones, ali com o veterano Harrison Ford.

É essa história paralela que parece arrastar o filme, sendo Jake um tipo de herói americano portador da bondade em tempos de matar ou morrer no mundo das cifras elevadas. Ele vai ajudar todos e salvar o dia com um beijo apaixonado na sua noiva liberal e de interesse legítimo na propagação da “verdade” via internet.

Parece natural associar esse projeto ao estilo vigoroso de Oliver Stone. Nessa dupla observação sobre Wall Street, Stone parece politizado e com câmera petulante apontada para distopias econômicas, mesmo que no caso desta sequência ele atenue sua verve crítica para investir em dramaturgia edificante e interesses levianos.

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