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Festivais

Entrevista: Renata Almeida

34ª Mostra SP (2010) – abertura

Por Luiz Joaquim | 21.10.2010 (quinta-feira)

A partir de hoje (21), e por 15 dias, a maior cidade do Brasil terá a maior vitrine cinematográfica da América Latina, com 471 fimes dividos em 1.200 sessões por mais de 20 espaços de projeção. Estamos falando da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que abre sua 34ª edição às 20h30 no auditório do Ibirapuera, com o novo filme do português Manoel de Oliveira (presente): “O Estranho Caso de Angélica”. Filme que estreou na mostra ‘Um Certo Olhar’ há cinco meses em Cannes.

Nas palavras de Renata Almeida (veja entrevista) – responsável (desde 1989) pelo evento ao lado do companheiro Leon Cakoff – esta Mostra está “monstruosa” na dimensão. “Temos exposição e filmes de Wim Wenders e outra do Tomie Ohtake, também vamos mostrar 80 storyboards originais de Kurosawa, além de uma retrospectiva sua, e ainda exibiremos a nova cópia de “Metropolis”, com 25 minutos a mais, e acompanhanda por 80 músicos para um público de 15 mil pessoas no Ibirapuera”, adianta Renata.

Famosa pela diversidade de títulos e novos talentos que apresenta, o evento vem dividido em programas como a Perspectiva Internacional; a Competição Novos Diretores, com exibição de filmes de cineastas que tenham realizado no máximo seu segundo longa-metragem; a Mostra Brasil, retrospectivas, homenagens e exibições especiais.

Entre alguns destaques, está a sessão de “Mistérios de Lisboa”, de Raoul Ruiz, com 272 minutos e que contará com a presença do produtor Paulo Branco. Outro filme extenso, com 280 minutos, é a versão do diretor para “Até o Fim do Mundo”, com a presença de Wim Wenders. E também “O Corintiano”, clássico dirigido por Milton Amaral, com Mazzaropi como um torcedor fanático do timão paulistano. A cópia foi restaurada e faz parte da homenagem da Mostra ao centenário do Corinthias.

Na entrevista concedida por telefone, Renata Almeida fala da rotina e dos critérios para compor a gigantesca Mostra, e não esquece dos prazeres que ela proporciona.

Como é sua rotina durante o ano? Que tipo de viagens e contatos precisa firmar para garantir tantos e tão diversos filmes para a Mostra?
A gente sempre vai a Berlim, Cannes e Veneza. Num ano ou outro, a gente também vai a festivais no Japão, Armênia e em tantos outros. Mas nós recebemos muitos filmes em DVD para assistir. São cerca de 800. É muito trabalho, mas muitos desses filmes já foram vistos por nós nos festivais.

A medida em que passam os anos, o que fica mais fácil e o que fica mais difícil na produção da Mostra?
O acesso à informação hoje é mais fácil. O acesso aos filmes também. O que vem complicando é o volume cada vez maior de filmes contra o tempo mais curto para fazermos a seleção. A produição de filmes aumentou bastante, mas temos visto muitas coisas feitas com pouco cuidado, então é muito importante estar atento para saber separar o jôio do trigo.

Quantas pessoas lhe ajudam na curadoria do evento e em que momento do ano você se dedica exclusivamente à produção de uma nova edição?
Somos só nos dois (Renata e Leon Kacoff), mas é claro que recebemos dicas de amigos, outros indicam filmes específicos, mas é em agosto que as coisas começam a complicar do ponto de vista da produção e nos dedicamos com mais exclusividade à produção.

Um festival como a Mostra agrega quantos profissionais? E qual o custo de um evento desse porte?
A produção próxima a nós fica em torno de 35 peessoas, mais vai crescendo à medida em a data do evento se aproxima. Durante a mostra, temos cerca de 500 pessoas envolvidas. È um evento caro. O nosso orçamento ideal é de R$ 5 milhões, mas adaptamos com permuta, apoio e patrocínio em serviço. Não pagamos a mídia, e mídia é algo bastante caro, então, vamos construindo tudo conforme o orçamento vai permitindo. Este ano a mostra está gigantesca. Temos duas mostras, uma do Wim Wenders e outra do Tomie Ohtake, também vamos mostra storyboards originais de Kurosawa, e ainda exibiremos a nova cópia de “Metropolis” acompanhanda por 80 músicos para um público de 15 mil pessoas. Isso é monstruoso de grande e o que a gente faz é devolver à cidade o que ela nos dá. Ano que vem, com mudanças na Lei Rouanet talvez não sejamos tão grandes assim, mas isso a gente ainda vai descobrir.

Há um critério norteador para a seleção dos filmes escolhidos?
É sempre a nossa relação com o cinema. Não dá como evitar o emocional nesse momento. Ou você gosta ou não gosta. O que diz algo, o que fala para você é muito determinante nas suas desições. Eu acompanho júris e já fiz parte de alguns em outros festivais, e é isso que observo. Sua seleção tem mais a ver com você de que com o filme. É claro que o filime com uma história bem contando é um outro aspecto a ser considerado na seleção. Tem também o aspecto experimental, o que o filme tem de inovador a apresentar. Preciso separa um lugar para isso. Outro aspecto é aquele em que o filme abre um tópico para a discussão da linguagem. Também pensamos em retrospectiva e tem aqueles filmes que você tem de se distanciar, não agrada a você, mas você sabe que existe um público para ele, e que se não for exibido na Mostra, não será exibido em outro lugar em São Paulo. Todos os filmes que estão na Mostra, estão por uma razão.

No cenário brasileiro atual, você considera o Festival do Rio um concorrente direto ou o evento carioca não interefe em seus projetos e negociações?
Não.A Mostra tem a 34 anos e a gente conhece muita gente fora do Brasil que o respeita. Às vezes escutamos de produtores. ‘Olha, o Rio está nos chamando, se aceitarmos, vocês ainda nos exibem?’, e eu digo, ‘Sim, tudo bem’. Precisamos entender que em primeiro lugar está o público. O público está acima de qualquer verdade. Temos de estar disponível e esquever vaidades. Não dá pra ficar num braço de ferro. A única coisa que somos mais exigentes, para dar chance ao júri internacional de ver coisas novas, é a competição com novos diretores. Mas de um modo geral, a Mostra e o Festival do Rio até divide custos, com as legendas, por exemplo.

Podemos dizer que Mostra ajudou a educar o olhar cinematográfico do paulistano? Como estava o cenário de exibição em São Paulo para filmes fora do perfil de Hollywood antes de 1977 (ano da primeira edição da Mostra), e como você vê esse cenário hoje?
Quando a Mostra surgiu, tinha uma lacuna que ela ocupou na cidade. E o que nos admira é que a cada ano, nosso público aumenta entre 20% e 30%. Nunca tivemos um ano com um público inferior ao ano anterior.

Dá para comensurar o benefício cultural que o evento promove?
É difícil dizer. Por exemplo, este ano faremos a maior homenagem ao centenário de Kurosawa. Fizemos um esforço para ter a cópia do “Rashomon” (1950) e me pergunta em que isso é benéfico para a juventude. Como um filme desse chega às novas gerações. E eu respondo, ‘você sabia que os dois robôs de ‘Guerra nas Estrelas’ foram inspirados na obra de Kurosawa?’. Então, quando vocês faz uma produção cultural é preciso ter elegância e trabalhar com humildade. Esse trabalho da Mostra dá a chance de ensinar um pouco sem ser professoral.

O que lhe dá mais prazer nesse ofício?
O sentimento de voce se perceber fazendo parte de algo é muito prazero. Só o fato de ver as pessoas nas ruas com seu livrinho de programação é ótimo. Você sente que está cumprindo um papel social. E quando a gente fecha o acordo de exibir um filme especial, como o de Scorsese sobre Elia Kazan, a gente vibra de alegria. É claro que quando a Mostra acaba a gente fica esgotado. Mas na verdade a gente adora isso.

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