
43o Festival de Brasília (2010) noites 4 e 5
Polêmica apimenta a competição de curtas
Por Luiz Joaquim | 29.11.2010 (segunda-feira)

Brasília (DF) – Um petardo político pernambucano explodiu aqui no 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro durante a competição de curtas-metragens na noite de sexta-feira. Com seu “Acercadacana”, o realizador Felipe Calheiros trouxe um reflexão há tempos esquecido, a reforma agrária. Ele deu voz a dona Maria Francisca, 45 anos, residente na Zona da Mata, região de Tiúma, em São Lourenço da Mata.
Francisca é uma voz solitária que desde 2004 luta na justiça, pela lei do usucapião, para ter o direito de permanecer em suas terras de 1/2 hectare (onde mora há 40 anos), localizada dentro da área de 28 mil hectares da usina Petribú. Com seus três filhos, e em sua casa sem água encanada e luz elétrica, sua família é a única, ainda vivendo naquela região.
É uma figura emblemática, considerando a estimativa que, desde os anos 1990, cerca de 15 mil famílias foram removidas de toda a Zona da Mata. Dona Francisca quer, enfim, apenas criar seus filhos onde seu pai e seu avô cresceram. Apesar da polêmica, “Acercadacana” não é panfletário. É bom cinema e faz parte de um projeto maior. Calheiros investiga a cadeia produtiva do etanol e a expansão do latifúndio canavieiro. “Este curta saiu agora em função da urgência da causa de dona Francisca”, explicou em entrevista.
O sábado viu o digital “My Way”, de Camilo Cavalcante, no qual usa a música homônima, imortalizada na voz de Frank Sinatra, para ligar um personagem sentimentalmente ao carnaval pernambucano. Já o curta “Café Aurora”, exibiu ontem, e o documentário em longa-metragem “Vigias”, de Marcelo Lordello, encerra hoje à noite a competição de Brasília.
LONGAS – Na sexta-feira, o longa “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado, deixou o público incomodado com sua proposta experimental sobre sete artistas performáticos em constante reflexão dentro (e fora) de uma casa prestes a ser demolida. Com referência explícitas a Godard (objeto de estudo do mestrado do diretor), “Os Residentes” apenas chega perto do espectador numa sequência na qual o casal Melissa Dullius e Gustavo Jahn (ator também de “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça) discutem o relacionamento.
Sábado foi a vez do conciso, elegante e profundo “O Céu Sobre os Ombros”, de Sérgio Borges. Conta a história da prostituta transexual que dá aulas sobre o assunto, um poeta marginal em crise com a razão da própria existência e o paradoxo de amar e rejeitar o filho deficiente, e o operador de central telefônica, adepto do Hare Krishina, skatismo e futebol. Para cada um destes complexos personagens, a ficção de Borges vai nos colocando bem próximos deles a ponto de suas dúvidas serem as nossas dúvidas. Bom.
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