Você Vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos
Um Allen sem norte
Por Luiz Joaquim | 26.11.2010 (sexta-feira)
Ainda está quentinho na memória o mau humor crônico e divertido de Boris (Larry David), personagem alter ego de Woody Allen no seu filme anterior, “Tudo Pode Dar Certo” (2009). Como também está a lembrança engraçada de suas duas personagens antagônicas Vicky (Rebecca Hall) e Christina (Scarlett Johansson) no filme de 2008. Com a estreia hoje, no Brasil, de seu novo rebento, “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” (You Will Meet a Tall Dark Stranger, EUA, 2010), é possível que os fãs conquistados por estes dois filmes anteriores se decepcionem.
É que o humor aqui não está acima das dores dos três principais casais que Allen desenha para sua nova trama. Na verdade, “Você Vai Conhecer…” soa, pela primeira vez na carreira do autor, como o rascunho de um filme que ainda não foi terminado.
O núcleo está primeiro no casal 1, Roy (Josh Brolin) e Sally (Naomi Watts); e depois no casal 2: os desquitados Helena (Gemma Jones) e Alfie (Anthony Hopkins) – ambos pais de Sally. As inseguranças, frustrações, brigas e traições que idenificam esses dois casais obedecem estruturas esquemáticas que já vimos dezenas de vezes em outros ‘Allens’ – o que nem seria um problema, à princípio, em se tratando do autor novaiorquino, mas aqui é, exatamente frágil pela característica desconexa, ou desarticulada como se apresenta.
Roy é um escritor frustrado que paquera a vizinha, enquanto Sally tem potencial, mas não sorte, para a arte, e está apaixonada pelo seu chefe (Antonio Banderas). Já Alfie, é um sessentão entusiasmado com a nova vida de solteiro, que acaba por se casar de novo com uma jovem prostituta. Enquanto isso, Helena é a única que acredita no futuro, pelas palavras de uma vidente.
As fragilidades que vemos em “Você Vai Conhecer…” talvez sejam tão gritantes por uma falta de rumo, que amarre todas as situações em função de um discurso claro. E ainda, como temos um humor mais restrito aqui, esta fragilidade ressalta-se sobre o todo. De qualquer forma, é sempre prazeroso ver um Allen numa sala de cinema.
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