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Críticas

A Rede Social

As obsessões da mente criadora

Por Luiz Joaquim | 20.12.2010 (segunda-feira)

No panorama atual do cinema norte-americano, o diretor David Fincher parece ocupar o curioso lugar de cronista das tragédias urbanas que em geral terminam na obsessão solitária. O autor de “Seven” (1995) e “Clube da Luta” (1999) volta aos cinemas com “A Rede Social” (The Social Network, EUA, 2010) que, assim como “Zodíaco” (2007), é um longa-metragem baseado num fato real, uma história que continua inacabada e habitada por pessoas autênticas. Parece ser mais um filme que reforça um interesse recente e mais ou menos realista de Fincher, de partir de algo concreto da vida externa ao cinema para chegar a suas próprias obsessões temáticas.

O filme fala sobre o surgimento da rede social Facebook e aborda as possíveis traições que ocorreram num negócio que movimenta bilhões de dólares e que todos os envolvidos têm idade inferior a 30 anos. O protagonista é Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), o criador do site, e ele é filmado em três momentos distintos: durante a criação/recepção do site no começo da década e ao longo de dois processos por roubo conceitual e danos morais. Seu melhor amigo é o empresário brasileiro Eduardo Saverin, interpretado sem qualquer sugestão de exotismo por Andrew Garfield.

Assim como “Zodíaco”, vemos o trabalho intelectual de um personagem cuja motivação criativa se confunde com obsessão, sendo o produto final (no filme de 2007, um livro que insinua quem seria o assassino do caso ainda em sem solução, neste novo longa, o próprio site Facebook) uma metáfora para esse isolamento social e afetivo que os personagens enfrentam. O curioso neste longa é a ironia de que o trabalho que surgiu desse isolamento é um site de relacionamentos que tem como interesse primário unir pessoas.

A história de Zuckerberg parece representar um tema que Fincher gosta de filmar, um homem compelido por suas obsessões. No meio de uma história maior e que certamente vai atrair atenções do público pelo que há de curioso (a gênese do Facebook), é interessante ver uma dramaturgia que sugere a desarmonia afetiva como um elemento fundamental no ato criativo. A primeira cena de 5 minutos e centenas de palavras pronunciadas é uma pista importante para perceber como o protagonista tem um perfil de nerd mais confortável com números do que com pessoas.

Neva muito nesse novo filme de Fincher, e essa frieza parece fazer parte das relações entre os personagens. É um clima de inverno que expressa um pouco a imobilidade emocional do protagonista, sendo a cena final o ápice de uma narrativa que mostra que em algum nível toda a discussão bilionária a que assistimos tem foco específico. Na tela, vemos que apesar de todo o dinheiro e méritos criativos, a tensão pessoal de Zuckerberg é resumida na espera de aceitação de um pedido de amizade no Facebook. Ao som dos Beatles, o botão F5 fica desgastado.

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