As Cartas Psicografadas de Chico Xavier
a dor e a felicidade da carta de um filho
Por Luiz Joaquim | 07.12.2010 (terça-feira)
É possível compreender aqueles que não se interessam pela doutrina espírita imaginar o filme “As Cartas Psicografadas de Chico Xavier” (Brasil, 2010), de Christiana Grumbach, como algo que fuja do tema que lhe atrairiam ao cinema. Mas, se o critério deste pre-julgamento tiver como referência filmes como “Nosso Lar” (setembro, 2010) de Wagner de Assis, “Chico Xavier: O Filme”, (abril, 2010) de Daniel Filho, ou ainda “Bezerra de Menezes: O Diário de Um Espírito” (2008), de Glauber Filho e Joel Pimentel, então este critério estará errado.
Apesar de o assunto em questão tomar como ponto de partida o contato com o médium por parte de algumas mães solitárias, ou casais, que perderam seus filhos, “As Cartas…” é um filme acima de qualquer outra coisa, extremamente humano e, assim sendo, universal e honestamente comovente.
Do ponto de vista estético, o documentário de Grumbach não guarda uma grama sequer de semelhança com as três dramatizações acima citadas. Na verdade, o doc pode soar radical para espectadores menos pacientes, se consideramos a opção da diretora em filmar, antes ou depois dos depoimentos, os lugares vazios onde estavam/estarão seus entrevistados.
Aqui, a opção inteligente pelo vazio e pelo silêncio absoluto reforça incomodamente a idéia do buraco sem fim deixado pelo morte de um filho. A falta de firulas fotográficas – entrevistados aparecem todos de frente para a câmera, em planos fechados ou closes – também chama para a seriedade da diretora com o assunto, como que dizendo ser a oralidade e naturalidade dos depoentes o mais importante ali.
Há ainda o melhor, que é o conteúdo humano traduzido pelo impacto do que é dito pelos pais. Como a senhora que, após receber notícias do filho por Chico Xavier, alivia-se depois de ter cometido suicídio. Depois da carta, viu um novo sentido em viver que é, simplesmente, ser bom com o próximo. Ou Como o pai que tirava muitas fotografias da filha, falecida apenas com nove anos de idade, e que, depois da tragédia, não consegue nem pensar numa máquina fotográfica sem se emocionar. Christina Grumbach estará presente no Cinema da Fundação para debate após a sessão.
Importante dizer que a versão de “As Cartas…” exibe às 20h20 de amanhã (8), no Cinema da Fundação dentro da mostra Expecttiva 2011 / Retrospectiva 2010, é diferente (menor) daquela exibida no 3º Festival de Paulínia, há cinco meses. Os eventuais excessos foram cortados numa nova edição, deixando-o mais enxuto, com corretos 87 minutos. Christina Grumbach também dirigiu “Morro da Conceição” (2005) e colaborou com Eduardo Coutinho em “Santo Forte”, “Babilônia 2000”, “Edifício Master”, “Peões”, “O Fim e o Princípio” e foi diretora assistente em “Jogo de Cena”. Ela estará presente no Cinema da Fundação para debate após a sessão.
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