Cacá Diegues no Recife
Cinco visões sobre o Brasil
Por Luiz Joaquim | 02.12.2010 (quinta-feira)
A história do cinema nacional possui filmes que reforçam a hierarquia social, em que os que têm a câmera filmam os que moram nas favelas. “Cinco Vezes Favela” (1962), longa-metragem dirigido por cinco realizadores (Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias, Leon Hirszman e Cacá Diegues), foi um exemplo para essa situação. “Éramos estudantes de classe média, universitários e politizados”, lembra Cacá Diegues, que atuou como produtor de “5x Favela: Agora por Nós Mesmos”, filme estreia hoje e desloca a câmera dos diretores “universitários e politizados” para as mãos dos personagens que os filmes representam.
Essa nova versão foi produzida por Diegues, e durante as etapas de realização, o diretor do filme de 1962 não interferiu. “Meu trabalho foi coordenar as atividades deles”, explica Diegues. “Eles fizeram os filmes, não tem uma única imagem criada por mim. Apenas procurei encontrar meios para fazer o que eles queriam”, ressalta Cacá, sobre o filme, composto por cinco histórias diferentes.
Essa questão sempre delicada do olhar vertical parece problematizada pelo filme, dessa vez com cinco diretores que experimentam na vida os temas abordados na obra. “Esse olhar de dentro é um salto importante para o cinema brasileiro”, comenta Cacá. “Eles agora não apenas são os porta-vozes deles mesmos, mas também estão com novas ideias, contribuindo com novos modos de ver o mundo”, reflete o diretor.
O que essa mudança de fatores representa? “Vou te dizer uma coisa, em quase 50 anos do cinema brasileiro, fui um dos fundadores do Cinema Novo, participei da evolução do cinema nacional, mas nunca vi um momento tão rico e fértil quanto agora”, comenta Diegues. “Todo ano surge três ou quatro cineastas importantes, uma diversidade estética, política, cinematografia e até mesmo regional. Nunca houve um período tão promissor e diverso. Fico feliz por viver esse momento, e no caso do ‘5x Favela’, aprendi muito com eles “, explica o diretor, que adianta que tem planos para um novo filme, “Grande Circo Místico”, um balé com música de Chico Buarque.
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