Existencialismo animado
Filme A Vida Plural de Layka reflete sobre o ser-urbano
Por Luiz Joaquim | 15.12.2010 (quarta-feira)
Nada de super-herói com visão de raio-x, ou gatinho que fala e come lasanha, nem cachorro detetive, etc e tal. O provável primeiro filme pernambucano (em gestação) adaptado de um quadrinho, o curta-metragem “A Vida Plural de Layka”, de Neco Tabosa, quer saber, e falar, do homem comum. Do pobre e perdido sujeito da urbe, seja recifense ou não, confundido em sua aflição diária em busca de alento, seja em família, seja fora dela.
Contemplado em 2008 com o prêmio Ary Severo (de R$ 56 mil líquidos, extraídos os impostos dos R$ 80 mil brutos) a ideia surgiu muito antes. Na verdade, nasceu um ano após o lançamento, em 2003, do quadrinho homônimo escrito e desenhado a quatro mãos por Gregório de Holanda Bezerra e Henrique Koblitz Essinger. Foi enquanto pensava numa boa idéia para um roteiro que Neco uniu-se aos dois e formatou a história do HQ para o cinema. Era por si só uma adaptação melindrosa, considerando que a ação acontece dentro da memória de dois homens.
Enquanto um repensa as mulheres que experimentou e parece perceber que todos os prazeres que tomou delas não foram suficientes para se encontrar ou se reconhecer como figura humana, o outro, o pai de família Josael, lamenta a rotina massacrante no trabalho, e maquinal com a esposa e o filho. Ao final, unidos em seus dramas, ambos personagens – identificados pela narração em off de Jr. Black e do ilustrador Gregório – chegam ao mesmo final: a cachorrinha Layka.
À parte a ideia de contar uma história fundida de dois personagens, levada pela memória, o diretor ainda incorporou outros elementos que transformou “A Vida Plural…” num desafio inédito por aqui. Cercado por uma equipe técnica e artística de 46 pessoas mais a cadela Cléo (a mesma que participou do longa “Lula: O Filho do Brasil”, de Fábio Barreto), Neco administrou no filme a incorporação de animação em 2D, 3D e com stop-motion; aqui sob os cuidados de Nara Normande.
Sobre os altos desafios logo no primeiro filme, Neco Tabosa brinca: “soube que Scorsese, no início, decidiu fazer o mais difícil, achando que nunca mais ia filmar outra coisa”, segredou. Do ponto de vista da dramaturgia, outra questão era dirigir a sugestão de cenas de sexo (nunca simples). A dificuldade começou ainda na definição do elenco, que, ano passado, o obrigou a divulgar um anúncio procurando atrizes no qual dizia: “Precisa estar disposta(o) para atuar em cenas de nudez e simulação de sexo elegante”.
A busca chegou nos nomes de Patrícia Fernandes, nas gêmeas Iris e Iara Campos, além de Sâmara Cipriano, que se entregam com coragem à fotografia de Roberto Iuri, assim como Luciana Canti, JR. Águia, Cléo B. Collier e outros estão sob direção de arte coordenada por Diogo Todë, som de Moa, montagem de Priscilla Maria e Mariana Valença.
Num primeiro corte, a edição de “A Vida Plural de Layka” deve ficar com 15 minutos de duração. A conclusão do curta ainda depende da confecção dos efeitos para a abertura do filme (sendo trabalhadas por Gregório e Henrique), assim como um tratamento de som e, talvez, regravação da narração em off. Neco Tabosa ainda precisa de recurso para fechar o filme, o qual planeja concluir e apresentar em março de 2011.
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