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14o Tiradentes (2011) – noite 6 (Prç. Walt Disney)
A Boa Viagem agridoce de Sérgio e Renata
Por Luiz Joaquim | 27.01.2011 (quinta-feira)
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TIRADENTES (MG) – Há uma história antiga que se escuta no Recife que diz assim: quem vem chegando do mar para o nosso litoral, a sensação é a de ver a cidade abaixo do nível do mar, como se a paisagem que se aproxima estivesse erguendo-se da água. Na abertura de seu novo curta-metragem, “Praça Walt Disney”, lançado quarta-feira aqui na 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro (do premiadíssimo “Superbarroco”) nos dão essa exata sensação para depois criar um cômico – ‘irônico’ seria melhor – e melancólico registro do que se tornou o bairro de Boa Viagem, na zona sul do Recife.
Mesmo podendo ser relacionado com outros filmes pernambucanos que perpassam por uma crítica a respeito do desordenado crescimento imobiliário na capital pernambucana, como “Eiffel”, de Luiz Joaquim, “Menino Aranha”, de Mariana Lacerda, “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro, ou “Recife Frio”, de Kleber Mendonça Filho, o novo filme do casal parece ir um pouco mais além.
Este ‘além’ reside exatamente no desenho sonoro e visual que Sérgio e Renata aplicam ao filme. Desenho visual com direito a intervenções artísticas como a do Mickey de balões de ar dançando no mar, e outro, humano, indigente na tal praça Walt Disney. Sons também colaboram para esse imaginário construído, como a trilha sonora de “Fantasia”, 1940, cobrindo a genial cena da piscininha na areia.
Outros sons que embalam “Praça…” são as primeiras gravações de canções como “Aquarela do Brasil”, “Tico-tico no fubá” e outras que remetem a uma praia de Boa Viagem de outro tempo. Na verdade, a um tempo onde relações humanas e os reflexos dessas relaçoes humanas compunham aquela paisagem urbana de maneira mais harmoniosa.
O confronto de fotografias em P&B mostrando aquela praia nos anos 1920 até hoje contrastando com a Boa Viagem caótica e de concreto frio de hoje são, sem dúvida, nostágica; mas é também desse contraste que surge a reflexão sobre no que, nós recifenses, nos tornamos ou estamos nos tornando.
Talvez o maior mérito de “Praça Walt Disney” esteja na postulação de todas essas questões sem soar deterministas ou necessariamente julgadoras, mas, basicamente, constatadoras. Há sim, sem dúvida, uma elegância no filmar de Sérgio e Renata com a qual já podemos perceber algumas características próprias.
Uma delas, talvez a mais marcante, arriscamos, seja o compromisso do casal com a liberdade em mostrar um urbano injetado de composições artísticas elaboradas e, por isso mesmo, nos dando uma leitura ora dura, ora doce. E tudo isso já estava sendo pré-anunciado no seminal vídeo “Guenzo” (2004),de Renata. “Praça Walt Disney” ainda será muito comentando pela imprensa especalizada em cinema até 2012, ou 2013, e também no exterior; podem anotar.
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