14o. Tiradentes (2011) noite 7
Os filhos cearenses de Coltrane
Por Luiz Joaquim | 28.01.2011 (sexta-feira)
TIRADENTES (MG) – Amanhã (29), às 22h30, encerra a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, com o anúncio dos vencedores da mostra competitiva `Aurora`; tendo sido exibidos dentro desse programa os longas-metragens “Vigias”, do pernambucano Marcelo Lordello, marcado para exibir hoje, antes de “Riscado”, de Gustavo Pizzi. Contra os dois, competem “Enchente”, de Julio Pecly e Paulo Silva, “Remições do Rio Negro”, de Erlan Souza e Fernanda Bizarria, “Sertão Progresso”, de Cristian Cancino, “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado, e “Santos Dumont – Pré-Cineasta”, de Carlos Adriano.
Dentro de outro programa, o `Vertentes`, na quinta-feira, Tiradentes lançou o novo longa do coletivo cearense Alumbramento, dirigido e atuado pelos Irmão (Luiz e Ricardo) Pretti e do primos (Guto e Pedro) Parente. Vencedores da Mostra Tiradentes 2010 com a ficção “Estrada para Ythaca”, o grupo chega agora com uma nova dramatização sobre a amizade e o afeto, com toques políticos e auto-referente sobre o fazer cinema com liberdade criativa. Tudo isso está em “Os Monstros”.
No pequeno fio da trama, um clarinetista (Ricardo) é deixado pela mulher e procura acalanto instalando-se no apartamento de dois amigos, técnicos de som de cinema (Guto e Pedro). Enquanto o músico, adepto do jazz free improvisation (surgido lá pelos anos 1960, marcado pelo improviso sem aparente harmonia) perde o emprego no bar onde toca, os dois técnicos também saem de um trabalho medíocre que faziam. Deprimidos, resolvem dar vazão ao poder criativo que resulta numa catarse a partir do encontro entre os três e um quarto elemento (Luiz), um guitarrista que volta de um lugar triste.
A tal cena final, durando 15 minutos, com o `free improvi` reinando e crescendo furiosamente dos dois músicos, e captadas pelos dois técnicos, é uma linda alegoria para o desconforto contra a mediocridade que estes amigos estão submetidos e dispostos a expurgá-la de si. A palavra de ordem é `criação`, sendo a arte – aqui no caso o cinema e a música – os instrumentos para isso.
Os Pretti e os Parente, sob a fotografia precisa do Ivo Lopes, não esquecem de aplicar humor a história melancólica; sendo outra de suas marcas a decupagem das imagens com enquadramentos precisos e timing perfeito. Nesses enquadramentos eles fazem de um ponto na imagem o centro do drama e o espectador entra nesse hipnotismo. Coisa rara de acontecer em filmes ficcionais brasileiros. Parabéns aos cearenses.
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