Tema recorrente no debate sobre cinema é questão da autoria, a forma como diretores se revelam a partir de certos maneirismos pessoais. Nesse caso, o interesse não é exatamente medir a qualidade de um filme, mas perceber a existência de um autor. O francês Michel Gondry, cineasta cuja afetação lúdica é quase sempre a interessante dor de cabeça de filmes como “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004), “Sonhando Acordado” (2006) e “Rebobine, Por Favor” (2008), é um dos remanescentes desse grupo.

Seu novo longa se chama “Besouro Verde” (The Green Hornet, EUA, 2011), e a suspeita de que é um projeto fraco com tendência ao horrível vem porque você descobre a autoria do filme apenas quando no fim aparece o aviso “directed by Michel Gondry”. A obra é a entrada sem restrição no terreno do cinema comercial, o que não deveria implicar em perda de qualidade, mas nesse caso Gondry parece tentar equilibrar um clima de ironia com os clichês do gênero ação e ser próximo da história original (que apareceu no rádio e depois foi parar na TV), mas a suspeita é de que ele apenas reitera as regras desbotadas do gênero.

O protagonista é Britt (Seth Rogen). Filho único de um dono de jornal, ele começa o filme como bobão muito rico e no fim evolui para bobão muito rico vestido de super herói e com um ajudante importado do Japão, Kato (Jay Chou), uma atualização para a geração 3D do mito Bruce Lee. Esse protagonista sem qualquer resquício de maturidade intelectual ou afetiva faz desse filme uma longa e desagradável jornada rumo ao tédio do humor involuntário, ao ponto de talvez duvidar que aquilo que está sendo projetado na tela é realmente de verdade.

O filme parece ter entre seus deveres comerciais a necessidade de uma cena muito longa de tiroteio, explosões e batidas de carro, coisas que projetadas em 3D parecem ser o equivalente cinematográfico de estar preso dentro de uma máquina de lavar roupa. Talvez a cena que melhor defina esse filme seja uma perseguição dentro de uma redação de jornal, em que mais ou menos vinte bandidos (estrangeiros) atacam o herói e seu ajudante, que fogem deles subindo num elevador dentro de um carro cortado pela metade funcionando normalmente.