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Críticas

Burlesque

Espelho, espelho meu…

Por Luiz Joaquim | 11.02.2011 (sexta-feira)

Se você já viu duas meninas adolescentes que, ao se encontrarem, começam a dar gritinhos, pulinhos, balançando a mãozinha de felicidade e falando “Aaiii, amigaaa!!” só porque se encontraram depois de dois dias sem se ver, então saiba que aí você já tem uma imagem síntese de “Burlesque” (EUA, 2010). O filme, que se pretende um musical, é o primeiro do diretor Steve Antin, sendo estrelado por Cher e Christina Aguilera. Este carnaval entra em cartaz hoje nos multiplex e levou um Globo de Ouro pela canção “You haven’t seen the last of me”, interpretada pela atriz mais velha.

A história pode ser resumida em dez palavras: “interiorana pobre vai para Los Angeles e descobre-se uma corista”. No filme, tudo o que gira ao redor dessas dez palavras diz respeito a plumas, brilho e muito pó de maquiagem. Há também músicas. Bem… mais especificamente, está lá uma dezena de canções pop norte-americana, e muitas não são originais, mas rearranjos.

“Burlesque” já dá o recado logo na abertura, com Alice (Aguilera, sem graça), ainda no balcão de uma bodega em Iowa, dizendo: “Vou embora para Los Angeles”. Sua colega pergunta: “fazer o que?”. E ela, em cima da cadeira, começa, berrando: “Rróóóuuoaaa !! Sometimes… I’ve got a feeliiiiing…”.

Uma vez em L.A., ela descobre a boate “Burlesque” dirigida a mão de ferro pela diva Tess (Cher, 65 anos, num personagem de 50). Lá os números são apenas coreografados pelas dançarinas e dublado pela estrela vaidosa Nikki (Kristen Bell, que é loira mas ficou morena no filme para não ofuscar Aguilera).

Mas, na única oportunidade que a própria Alice cria, ela mostra a Tess e sua turma que a interiorana sabe não apenas dançar, mas cantar. E, com a permissão da diva, Aguilera inicia seu teste ao vivo. Com um grito que lembra o processo de um parto difícil, Aguilera começa a se contorcer no palco enquanto todo mundo faz cara de bobo na plateia da boate. É o sucesso. E daí até o final serão mais meia dúzia de partos sem anestesia.

Do ponto de vista cinematográfico, “Burlesque” é pívio. O jogo cênico é tão rico quanto o de um trivial especial de TV – e sempre no mesmo espaço, a boate -, e as músicas quase não dialogam com os dramas (dramas?) dos personagens. É de se questinar se podemos até mesmo chama-lo de musical.

Do ponto de vista da sedução, a sem açucar Aguilera simplesmente não funciona e dá saudade até da atriz brasileira Tammy Di Calafiori, como a Marilyn virgem dançando na boate Eldorado do frágil “A Suprema Felicidade” (2010), de Arnaldo Jabor. O que mais pode ser dito?

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