O Ritual
Aprendiz de exorcista
Por Luiz Joaquim | 11.02.2011 (sexta-feira)
Desde que William Friedkin concebeu, em 1973, uma obra-prima chamada “O Exorcista”, a indústria cinematográfica norte-americana enlouqueceu com a ideia de cutucar a Igreja Católica e seus segredos. Hoje chega mais um exemplar, já cansado, desse segmento chamado “O Ritual” (The Ritual, EUA, 2011), do sueco Mikael Hafstrom (do péssimo “Quarto 1408”), com Anthony Hopkins, Collin O’Donoghue (da série de TV “The Tudors”) e a brasileira Alice Braga. Mais que cansado, “O Ritual” está mais para, em alguns momentos, o pior tipo de piada, ou seja, aquela que não era para ser engraçada, mas soa assim. Uma piada de si próprio.
Mas, querendo soar sério, o filme abre logo com uma citação do Papa João Paulo II dizendo que o demônio, ainda nos dias de hoje, está entre nós; para logo depois outra cartela nos avisar que a história a seguir foi baseada numa real. No roteiro enfadonho de Michael Petroni, a partir do livro de Matt Baglio, temos o jovem Michael (O’Donoghue, engessado) que trabalha com o seu pai viúvo (o ótimo Rutger Hauer, aqui subaproveitado) numa funerária familiar. Na família, ou se trabalha cuidando dos mortos para o funeral ou se vira padre. Michael escolhe a segunda opção, mesmo convicto que não tem nenhuma vocação para o sacerdócio.
Prestes a desistir, é regimentado para por sua fé em teste como aprendiz de exorcista, em Roma. Sim, isso mesmo, aprendiz de exorcista num curso high-tech. Lá, conhece a jornalista italiana Angelina (Braga, sempre aproveitada em Hollywood como uma estrangeira), que quer produzir uma matéria a respeito do ritual para expurgar o demônio. Cético que é, Michael é levado a conhecer como trabalha o nada ortodoxo padre Lucas (Hopkins, num modo Hannibal).
Na primeira sessão que Michael acompanha Lucas em ação – quando o exorcista alivia o sofrimento de uma adolescente grávida e endemoniada – já temos a ideia do quão pouco sério é “O Ritual”. Isso porque, no meio do procedimento de exorcismo, o celular do Pe. Lucas toca e ele atende, pedindo para o estagiário assumir o exorcismo enquanto a menina se contorce e fala grosso. É patético.
Bobadagem no roteiro à parte, temos uma fotografia escura e feia, efeitos visuais triviais, interpretações muganguentas e personagens mal desenhados, pobres mesmo. Como o de Braga, que parece estar aqui apenas para incluir no currículo o registro: “Contracenou com Anthony Hopkins em…”.
Atenção para a participação da atriz italiana Maria Grazia Cuccinotta (de “O Carteiro e o Poeta”) como tia da adolescente grávida. Mais uma subaproveitada. Considerando que falar o nome de Deus em vão é errado, então,”O Ritual” está entre os grandes pecados do cinema de horror.
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