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Reportagens

Sagatio: Histórias de Cinema (filmagens)

E a luz se volta para sua fonte

Por Luiz Joaquim | 08.02.2011 (terça-feira)

Tarde de quinta-feira. Rua do Lima, 82. Na empresa de equipamentos de iluminação cinematográfica chamada Pirâmide, o técnico João Carlos Sagatio, 70 anos, interrompe a entrevista que concede a imprensa sobre o documentário “Sagatio: Histórias de Cinema”, produzido e dirigido por Amaro Filho da produtora Página 21. A interrupção é para apresentar o fotógrafo do filme, Roberto Abreu, que aparece a porta da Pirâmide. O gesto parece banal, mas traduz perfeitamente o espírito generoso de Sagátio para com quem atua atrás das câmeras. Sendo uma figura mais que conhecida no universo cinematográfico de Pernambuco há quase 20 anos, pode-se dizer que ele é o principal responsável pelo grau de profissionalismo em iluminação que o cinema local alcançou nessas duas últimas décadas.

Mas, antes de Pernambuco, Sagatia já carregava mais de 40 anos de experiência, que incluía seu aprendizado na Vera Cruz (estúdio em São Bernardo que produzia filme com grau de excelência técnica mundial, na primeira metade dos anos 1950), e seus desdobramentos naturais em São Paulo ao lado de Mazzaropi (para quem iluminou “Jeca Tatu”, 1959, e “Zé do Periquito”, 1960). Antes, Sagatio foi o eletricista por trás de “Na Garganta do Diabo”, o dos primeiros filmes de Walter Hugo Khouri. “Foi minha primeira experiência como profissional mesmo”, pontua Sagatio.

Amaro conta que o curta-metragem vai oferecer uma narrativa livre, seguindo Sagatio pelos lugares marcantes de sua vida profissional e pessoal. Nesse aspecto, um dos momentos emocionantes das gravações aconteceu em Lapa, município natal de Sagatio, no Paraná. “Fomos a um cartório e vi meu registro com a impressão digital de minha mãe. E olha que eu saí daquela cidade quando tinha apenas seis anos”, lembrou com emoção o cinebiografado. Mas o diretor Amaro Filho ressalta: “O filme também quer oferecer a visão do cinema brasileiro dos últimos 50 anos pela perspectiva de um eletricista”.

As imagens feitas na quinta-feira, na Pirâmide, incluíam uma espécie de aula sobre iluminação para o cinema, quando o personagem explicava as funções de seus equipamentos de luz. Era o último dia das filmagens, iniciadas em 16 de janeiro, que passou por Taubaté, SP (no museu de Mazzaropi) e São Bernardo, SP (nos estúdios da Vera Cruz), Salvador, BA (nas escadarias da Igreja de Santa Bárbara, set de “O Pagador de Promessas”, 1962. “Quando encontramos o (produtor) Anibal Massaíne Neto, em São Paulo, ele me deu um abraço e disse: ‘Poxa Sagatio, você sabe que é um dos poucos vivos de “O Pagador…’ não é?”. Desse filme, única Palma de Ouro brasileira, Sagatio faz questão de dizer que se o diretor Anselmo Duarte (1920-2009) estivesse vivo, ele faria de tudo para gravar seu depoimento para o “Histórias de Cinema”.

Antes de sair de São Paulo e arriscar a vida no Recife em 1993 – num época crítica para o cinema em todo o país, vale registrar – Sagatio fez também longa carreira no cinema do Sudeste. “Não vou ficar contando agora, mas sei que que tenho mais de 80 filmes no currículo”, arrisca. Nos anos 1970, ele esteve no set de vários filmes populares como um clássico da pornochanchada “Contos Eróticos” (1977). Obra com episódios dirigidos por Joaquim Pedro de Andrade, Eduardo Escorel, Roberto Santos, Roberto Palmari; e outros menos conhecidos, mas não menos importantes como o ótimo “O Seminarista” (1976), primeiro filme da atriz Louise Cardoso, sob direção de Geraldo Santos Pereira.

Há de se registrar também sua atuação em co-produções estrangeiras, tendo trabalhado com franceses, ingleses, argentinos, chilenos, japoneses e norte-americanos. Com estes últimos, conheceu Pernambuco pela primeira vez em 1965, quando veio com o diretor Charles Guggenheim rodar a co-produção EUA/Brasil, “O Pescador e Sua Alma”, na praia em Gaibú. “Lembro que Adão Pinheiro fez a direção de arte e chegou a atuar também”, recorda Sagatio. “Pela conversa com Massaíne, entedemos que há uma possibilidade da cópia na Cinemateca Brasileira (em SP) desse filme vir ser restaurada”. revelou Amaro, que pretende finalizar “Sagatio: Histórias de Cinema” sem pressa. “Não descarto a possibilidade também de fazer um média, talvez para a TV. Temos um vasto e bom material bruto para isso”, concluiu.

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