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Críticas

Um Homem que Grita

Paternidade à moda africana

Por Luiz Joaquim | 25.02.2011 (sexta-feira)

Com quem frequência se vê um filme africano em cartaz no Recife? E com que frequência se vê um filme de Chade, país no centro daquele continente? Mas, antes de entenderem “Um Homem que Grita” (Un homme qui Crie, Cha./Fra. 2011) – em cartaz no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco-, interessante apenas pelo exotismo por conta de sua origem, é preciso deixar claro que há ali um cuidadoso trabalho cinematográfico, tão refinado que terminou sendo celebrado pelo Festival de Cannes em 2010, com o prêmio especial do Júri.

Dirigido e roteirizado por Mahamat-Saleh Haroun, a produção contempla dois campos de observação do universo africano: um familiar/humano e outro político. Tudo origina a partir de um único lugar, o hotel chique na capital N’Djamena. Ocupado por ricos (brancos) e estrangeiros, é lá que trabalha feliz, há décadas, Adam (Youssouf Djaoro). Ele é um senhor prestes a se aposentar, orgulhoso por carregar um título de campeão de natação, e é o responsável pela piscina do hotel assim como pela segurança dos banhistas. Ao seu lado, como ajudante, está seu filho Abdel (Dioucounda Koma).

Acontece que tudo muda quando chineses compram o hotel e decidem enxugar o corpo de funcionários. Nisto, Adam herda o uniforme curto e humilhante do antigo responsável pela cancela na entrada do hotel, assim como esta função. Deixando a piscina, Abdel assume o posto, mas sem o amor e esmero que o velho tinha pelo serviço. Instala-se então uma desarmonia velada.

Mas um acontecimento político, quando rebeldes se colocam contra o poder nacional (fato que data de 2007), acaba por resgatar entre os dois o que há de mais profundo entre pai e filho. É isto que faz Adam sair de sua letargia pela humilhação e mover-se, sem racionalizar muito bem, em direção ao filho que é sequestrado para lutar pelo país.

Talvez o melhor resultado alcançado por Mahamat-Saleh Haroun em “Um Homem que Grita” está na transição tranquila da representação de uma dramatização que se concentra num núcleo familiar para outra que abrange toda uma sociedade. O casamento fluído das duas problemáticas relativiza uma a outra, mas sem diminuí-las individualmente em seu peso dramático, tão bem representado pelos silêncios e introspecção de Adam.

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