Um Quarto em Roma
Lindas, nuas e sem espírito
Por Luiz Joaquim | 18.02.2011 (sexta-feira)
Bastante celebrado no Brasil pelos poéticos, não só no tema mas também pelas imagens e narrativa que gerou em “Os Amantes do Círculo Polar” (1998) e “Lucia e O Sexo” (2001), o cineasta espanhol Julio Medem deu uma escorregada em seu novo “Um Quarto em Roma” (Habitación en Roma, Esp., 2010), entrando hoje em cartaz no Cine Rosa e Silva.
Supõe-se que espanhol tenha apreciado bastante o filme chileno “Na Cama” (2005), de Matías Bize, e roteirizado pelo seu xará Julio Rojas. É com Rojas que Medem reescreveu um novo roteiro para “Um Quarto…” a partir do mesmo argumento do filme anterior. Curioso que, no Brasil, “Na Cama” também gerou uma refilmagem fracassada. Foi em 2008, com Paola Oliveira fazendo par com Reynaldo Gianecchini. Eles formavam o casal de desconhecidos que passavam uma noite inteira no motel se envolvendo pela sexualidade e personalidade.
Como diz o título, “Um Quarto em Roma” ganhou um ambiente mais romântico, mais requintado, mais erudito do ponto de vista cenográfico, entretanto, a limitação dos diálogos e das performances também deixam a desejar. Mesmo com o apelo (ou desafio) de que o novo casal não seja heterossexual, as relações físicas e emocionais que aproximam e envolvem as duas personagens não soam convincentes.
Na tela, não dá para acreditar na paixão que a espanhola gay Alba (por mais empenhada que esteja Elena Anaya, de “Lucia e O Sexo”) sente pela russa Natasha (a belíssima ucraniana Natasha Yarovenko, do péssimo “Diário de Uma Ninfomaníaca”, 2009). O mais triste em “Um Quarto…” é que Natasha é um mulher deslumbrante e não seria difícil torná-la extremamente desejável.
O problema cresce durantes as seqüências de sexo, mais burocráticas que excitantes. As últimas relações sexuais, que deveriam vir mais carregadas de paixão, como sugere o roteiro a partir do crescente envolvimento emocional das duas, soam tão mecânicas como as primeiras relações. Há ainda um fator que distrai do foco da dramaturgia: o sotaque pesado das atrizes com o inglês. Parece pouco, mas é essa distração que nos permite enxergar com mais precisão os problemas nas performances delas, principalmente na de Natasha.
Medem parece se perder num barroquismo que a princípio não caberia entre as quatro paredes do simples mas refinado quarto daquele hotel romano. Um bom exemplo de simplicidade cinematografia que dá certo para histórias assim está em “Eu Sei que Vou te Amar” (1986), de Arnaldo Jabor.
Na verdade, o que há de interessante no roteiro de “Um Quarto…” está na decoração do ambiente e menos nos diálogos cheios de jogos de mentiras entre as duas amantes que se preservam e se abrem aos poucos.
No quarto, cercado por cupidos pintados nos tetos, com suas flechas apontando para as moças, há também pinturas renascentistas, que remetem a uma situação grega, onde nasceu Alba. Mas a brincadeira com as artes plásticas que Medem propõe aqui não é intelectualmente suficiente, ou bem articulada, para estimular a sensibilidade do espectador. Sobram as mulheres, bonitas e peladas, mas sem espírito.
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