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Críticas

Passe Livre

sobre éticas e pum

Por Luiz Joaquim | 11.03.2011 (sexta-feira)

Os irmãos Bobby e Peter Farrelly amadureceram, ou estão amadurecendo. A julgar por “Passe Livre” (Hall Pass, EUA, 2011), novo trabalho da dupla, em cartaz hoje. Após oxigenar o humor de Hollywood em 1998 com o politicamente incorreto “Quem Vai Ficar com Mary?”, chega essa nova piada que ainda “chuta o pau da barraca”, mas com uma certa ética e culpa acenando de longe o tempo inteiro para os amigos Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis).

Casados há quase 20 anos, eles são bons homens, bons pais, e bons maridos, mas com uma fixação por sexo que os tornam bobos olhando e desejando todas as mulheres na rua. Eles soam, inclusive, com o que o próprio cinema e mídia norte-americana vendem sobre sua cultura.

A questão é que suas saudáveis esposas, Maggie (Jenna Fisher) e Grace (Christina Applegate) também gostam de sexo, mas não têm no assunto uma obsessão. Chateada com uma conversa machista de Rick com os amigos, que escuta acidentalmente, Maggie propõe o tal passe livre do título. Explicando: ela ira para a casa da praia com os três filhos pequenos, e o libera por sete dias para fazer o que ele quiser de si. Sem culpa.

A lógica da proposta, dada por uma psicóloga amiga de Maggie e Grace, é a de que por terem se casado muito jovens, eles (os homens) acham que suas esposas são as culpadas por eles não terem tidos todas as mulheres que enxergam na rua. Dando uma folga, eles poderiam ver que a coisa não é tão simples assim e valorizariam sua própria mulher.

O interessante aqui é que, uma vez feita a proposta, Rick recusa e tenta convencer Maggie o quanto isso é absurdo, e a coisa só passa a acontecer quando entra em cena Fred, também com um passe livre, mas conseguido de maneira menos nobre. É claro que a previsão da psicóloga torna-se concreta, mas até lá, o que vemos é uma série de equívocos por parte da dupla fora de forma na abordagem com outras mulheres.

Os Farrelly também não esquecem o outro lado. Maggie e Grace passam a tal semana de folga numa praia cheia de jovens e naturalmente encontram quem as tentem seduzi-las. O interessante é que, enquanto os maridos fazem de tudo para conseguir sexo, as esposas não fazem esforço algum. Pode ser uma lógica masculina, mas ela serve para os Farrelly darem seu recado com competência (e sem soar moralista, como parece esse resumo). Ou seja, nem um dos dois lados está a vontade nessa brincadeira, e ela só poderá resolver o problema sexual dos dois casais a custas de muito sofrimento para os dois lados.

Esse sofrimento, no caso de Rick e Fred é, inclusive, físico e moral. Sim moral. Aqui em “Passe Livre”, a mente especial dos Farrelly para humor criou no mínimo dois momentos antológicos para as novas comédias norte-americanas – tal qual o inesquecível gel no cabelo de Cameron Diaz em “…Mary?”.

Acontece quando Rick tenta se aproximar de uma paquera e vai parar numa academia de ginástica, mas lá é salvo de um acidente por um “afro-americano” gigante. E ainda quando Fred finalmente consegue levar uma estranha a um hotel, mas chegando lá, ela passando mal, tenta vomitar e não consegue, mas garante outra coisa pior.

Mesmo com a ainda escatologia servindo de graça para as melhores piadas dos Farrelly, o recado para os machos olharem para dentro de casa antes de olharem para a rua funcionam tão bem que o espectador feminino, inclusive, pode virar fã desse filme masculino. Em tempo: atenção para a participação especial de Richard Jenkins como o solteirão especialista em mulheres que desvenda seus segredos numa boate.

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