A Garota da Capa Vermelha
O lobo mau é um homem
Por Luiz Joaquim | 21.04.2011 (quinta-feira)
O que aconteria se a histórica do Chapeuzinho Vermelho se unisse a do Lobisomen? Não precisa imaginar muito, basta ir aos cinemas para ver a estreia de hoje, “A Garota do Capuz Vermelho” (Red Riding Hood, EUA, 2011). Esta nova cria da diretora do megasucesso “Crepúsculo” (2008), Catherine Hardwick, conseguiu, a partir de duas fábulas clássicas, criar uma terceira que parece não funcionar muito bem do ponto de vista das analogias que as histórias originais propõem. Na verdade, não resta dúvida que “A Garota…” é apenas mais um produto de olho no mercado juvenil com o mesmo perfil consumidor de “Crepúsculo”.
Isso se traduz na pouca criativa fórmula “amor impossível entre uma bela e uma fera”. A bela aqui é a (realmente muito bela) é Valerie (Amanda Seyfried, de “Mamma Mia!”, 2008, “Querido John”, 2010). Vivendo com os pais pobres (Virginia Madson e Billy Burke) e a irmã (Alexandria Maillot) num vilarejo próxima a uma densa floresta, em plena Idade Média, Valerie está prometida a casar com o rico Henry (o bom Max Irons, filho de Jeremy Irons, em cartaz no Sudeste também em “O Retrato de Dorian Gray”).
Mas o coração da moça é do “financeiramente inadequado” lenhador Peter (Shiloh Fernandez), com quem até ela planeja fugir para evitar seu destino matrimonial. Mas, para sua tristeza, o lobisomen que há 20 anos não matava ninguém nas redondezas, faz de sua irmã uma nova vítima. Toda a ação do filme passar a girar em torno da caça pelo lobisomen – bicho criado, à propósito, em efeitos digitais CGI tradicional e mal-disfarçadamente modesto pros padrões de hoje. A tensão aumenta com a chegada do currupto padre Solomon (Gary Oldman, divertindo-se como mais um malvado sem dó), cujos métodos são poucos ortodoxos e violentos.
“A Garota da Capa Vermelha”, com sua trilha sonora cool, promete (e nos frusta) em tornar-se numa história interessante quando, num ataque do lobo, Valerie consegue se comunicar com ele. Mas o artifício serve, principalmente, para instituir a desconfiança sobre quem seria a tal criatura no vilarejo, e Hardwick poder distrair pobremente seu espectador. Entre os suspeitos, está a própria avó de Valerie (Julie Christie, de “Doutor Jivago”, 1965).
Apesar do empenho do elenco e, entre eles, a máquina funcionar bem, o ritmo do enredo parece emperrar a certa altura, dando a impressão que a trama nem serve para criar o clima romântico impossível entre o trio Seyfried-Fernandez-Iron, nem tampouco serve para excitar o espectador que quer adrenalina no cinema pela violência do monstro, mais um vez, pouco convincente ou assustador.
Uma pena que Hardwick mesmo tendo ganhado destaque no mundo com o bom “Aos Treze” (2003), tenha se tornado a escolhida, quase que oficial do mainstream para transformar em imagens as fábula$ fabricada$ por Hollywood. E, aguadem: “A Garota da Capa Vermelho”, com o seu final, deixou o caminho aberto para “A Garota da Capa Vermelha 2: Mais Rubro Ainda”. É só a bilheteria desse primeiro “bombar”, para ficar na gíria de seu público alvo.
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