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Críticas

Abutres

Eloquência cinematográfica em função do humano

Por Luiz Joaquim | 01.04.2011 (sexta-feira)

Já passa de dez anos a data em que o cineasta argentino Pablo Trapero, 39 anos, começou a produzir longa-metragens. “Abutres” (Carancho, Arg. 2010), que estreia hoje no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, é o seu sétimo trabalho. Assim como os nomes de Lucrecia Martel, Juan José Campanella e Marcelo Piñeyro, entre outros, o de Trapero já aparece como o de uma grande força e talento, reinventando-se e experimentando em vários gêneros, com filmes sempre pontuados pela eloquência narrativa agregada ao limites da tensão humana.

O que se nota em seu cinema é o forte compromisso com o que há de mais humano em seus personagens, mesmo sendo o mote o humor, a dor ou o amor, como bem mostrou em “Do Outro Lado da Lei” (2002), “Família Rodante” (2004) “Nacido y Criado” (2006, inédito no Brasil) “Leonera” (2008).
No caso deste seu “filme policial”, Trapero, magistralmente, investiga um infeliz dado sobre o trânsito argentino (que diz 8 mil pessoas morrem por ano ali) para daí criar uma laboriosa trama que envolve falcatruas em seguradoras que, inclusive, forjam acidentes com seus segurados para receber as indenizações.

Nesse universo está o “abutre” do título, Sosa (o incansável e talentoso Ricardo Darín). Sosa chega “misteriosamente” aos acidentados, antes dos paramédicos, além de providenciar alguns acidentes. Visto com desdém pelos paramédicos, ele acaba esbarrando com uma delas, Luján (a bela Martina Gusman, de “Leonera”), com quem começa um romance. Tudo, que já poderia ser suficiente para gerar um enredo no mínimo interessante, está apenas na introdução de “Abutres”, e ali, na sequência, ganha uma proporção bem mais sofisticada pelas mãos de Trapero.

Observando o percurso inteligente do roteiro de Trapero junto a Alejandro Fadel, Martin Maurequi e Santiago Mitre, o que temos é uma belíssima construção de sentidos. E não apenas para o espectador imergir e acreditar na principal questão que o filme coloca – a corrupção generalizada sob um cartel, mas também um muito bem ensaiado balé de imagens encadeadas que colocam o público dentro da urgência e limitações de um hospital público e da rotina dos “abutres”.

Não se pode deixar de mencionar os dois espetaculares atores protagonistas, Darín e Gusman, que guardam para a cena final um dos melhores momentos de tensão e performance que um casal em fuga pôde representar. O “Abutres” de Trapero soa até como um resgate de um gênero que Hollywood parece ter desaprendido a fazer, a julgar pelo que temos visto recentemente.

Em tempo: por falar em Hollywood, o filme foi indicado pela Argentina para concorrer ao Oscar 2011. Isso significa que “Abutres” exibiu no circuito comercial de cinema norte-americano, logo, não nos surpreendamos se em breve lermos a notícias de sua refilmagem gringa.

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