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Críticas

Incêndios

Indicado ao Oscar 2011 em cartaz no Cine Rosa e Silva

Por Luiz Joaquim | 15.04.2011 (sexta-feira)

Entre outros direitos ou deveres, um filme pode ser percebido como uma investigação pessoal sobre a história de uma região, um relato a respeito de como a evolução política de um determinado lugar repercute no íntimo de cada um. “Incêndios” (França/Canadá, 2010), que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e entra hoje em cartaz no Cinema Rosa e Silva, parece manifestar um fascínio pelo passado do Oriente Médio, sintetizando anos de tensão e repressão numa pequena história em que o termo “ficção” parece reduzir um pouco a força das imagens.

O filme toca em assuntos sensíveis e abertos, fala sobre temas grandes da história recente da relação oriente/ocidente, em especial a herança deixada por uma região em conflito via narrativa de drama familiar. Não parece ser o interesse do filme apontar motivos para a situação atual no Oriente Médio, apenas narrar uma história que é produto desse contexto, talvez como forma de refletir sobre a extensão das feridas que surgem de tantos guerras.

Dois irmãos canadenses, Jeanne e Simon, decidem atender ao último desejo da mãe, que morreu recentemente: achar um terceiro irmão (que eles não sabiam que existia) e o pai (que eles pensavam que estava morto) e entregar a cada um uma carta. Isso força os irmãos a um doloroso processo de descobrir fases da história pessoal da mãe. Eles viajam para o Oriente Médio para rastrear as origens e a formação dela durante os anos 1960 e 70, crescimento naturalmente atrelado ao contexto de conflitos políticos e religiosos, nos quais ela teve participação ativa.

O filme assume uma estrutura narrativa dupla: enquanto acompanhamos os irmãos viajando em busca de vestígios de fantasmas do passado, vemos flashbacks que mostram a trajetória infernal da mãe deles, em cenas de forte teor físico e emocional. Nesse caso, essa estratégia de passado e futuro conjugados parece algo didática e segura, mais ou menos uma edição organizada para uma cena explicar ou comentar a anterior, num fluxo de imagens sem lugar para ambiguidades ou abstrações.

Apesar de a história aos poucos perder o ritmo de equilíbrio entre manifesto social e drama familiar, enfatizando um truque narrativo que parece funcionar apenas como um tipo de grande surpresa para chocar as pessoas, há ali uma sensação autêntica de querer ressaltar a existência de barreiras, ideológicas ou não, entre as pessoas.

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