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Críticas

Rio

Muitas cores, pouco carisma

Por Luiz Joaquim | 08.04.2011 (sexta-feira)

Sendo carioca, este projeto pessoal do diretor Carlos Saldanha – já uma autoridade no EUA com seu trajeto da bem-sucedida franquia “A Era do Gelo” iniciada em 2002 -, era de se esperar um argumento mais audacioso para seu novo filme “Rio”, (EUA, 2011) – animação em 3D digital que estreia hoje em mil salas de cinema no Brasil. É um recorde no campo de estratégias de entrada no mercado cinematográfico nacional, considerando que são pouco mais de 2.400 salas no Brasil.

Mas, lançando um segundo pensamento sobre o projeto, é fácil entender o porquê a audácia não é exatamente a palavra de ordem para o roteiro deste filme, mas sim para seu trabalho de marketing.

“Rio” conta a história de Blu, uma arara azul em extinção que vive domesticada, entre sua casa e uma livraria em Minnesota, EUA. Um dia, Blu, que nunca aprendeu a voar, é convidado por Túlio (voz original de Rodrigo Santoro), um cientista brasileiro, para ir, com sua dona, ao Rio de Janeiro cruzar com Jade (voz original de Anne Hathaway), a única fêmea de sua espécie.

Chegando ao Brasil, é sequestrado por contrabandistas. Mas Blu acaba fugindo literalmente acorrentado a Jade, pela pata e pelo coração. É quando, até o final do filme, a arara gringa terá de se virar, sem conseguir voar, junto aos novos amigos – o tucano Rafael (George Lopez) e os passarinhos Nico (Jamie Foxx), Pedro (Will.i.am, do Black Eyed Peas) e o bulldog Luiz (Tracy Morgan) – para fugir dos perigos brasileiros.

Há uma diferença enorme no conceito visual entre “Rio” e os três “A Era do Gelo”. O novo filme usa e abusa das cores e por isso é (naturalmente) mais quente como não podia deixar de ser, sendo a cidade do Rio um personagem à parte. Esse apelo colorido e barulhento pode até encantar facilmente o espectador pequenininho, mas não aos adultos.

Apesar do esmero visual com belas composições da região, fica a impressão de fragilidade. De uma identidade visual frágil, ou pobre (exceto pelo desfile da escola de samba), ao menos para o espectador brasileiro, que vê aquele cenário diariamente ao ligar a TV à noite para ver telenovela.

Dessa forma, “Rio”, o filme, pode até soar exoticamente atraente e curioso para os estrangeiros, mas nem tanto para nós; e daí fica mais fácil entender o super-marketing no Brasil. Aqui, a Fox vai tentar empurrar o sucesso à força, fazendo com que, para onde olhemos, vejamos a arara Blu.

Mas há ainda o frágil enredo e seus personagens. Ao contrário de “A Era do Gelo”, com Scrat – seu esquilinho de olhos esbugalhados -, não há sequer um personagem cativante em “Rio”. E um bom personagem, qualquer um, é determinante para que o filme permaneça por dias (ou para sempre) na cabeça do espectador, seja ele crescido ou baixinho. Ou tem alguém que consegue esquecer qual é a principal característica da peixinha Dorothy de “Procurando Nemo” (2003)? Talvez só a própria Dorothy não consiga lembra.

Curiosidade: a cantora Bebel Gilberto faz a voz (origial) da tucano fêmea, cantando ironicamente uma “Garota de Ipanema” desafinada. Outro músico presente é Sérgio Mendes, dando voz a um diretor de escola de samba.

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