O filme mais aguardado da noite da terça-feira do Cine PE era o documentário “JMB, O Famigerado”, de Luci Alcântara, sobre o pensador, escritor, crítico, cineasta, entre tantos rótulos, Jomard Muniz de Britto. O filme aparenta ter cerca de dois mil entrevistados, cada um relatando metáforas, aforismos ou alegorias para sugerir quem ou o que seria Jormard, além da encenação de uma tensão entre diretora e personagem. O maior interesse do filme é mesmo ver Jomard em cena, que parece perceber com mais precisão as limitações de um filme ensaio biográfico ritmado por aliterações constantes, e se divertir a projeção de sua imagem, que ele mesmo descreve como sendo a de mau velhinho.

O outro longa-metragem da noite foi “Vamos Fazer um Brinde”, de Cavi Borges e Sabrina Rosa. O filme tem uma construção dramatúrgica baseada na improvisação diante da câmera, em que sete personagens interagem livremente, relatando problemas e felicidades no tom de sentimentos exaltados. Cada personagem parece preso ao seu papel socialmente estabelecido: a mulher neurótica que liga 15 vezes em 15 minutos para o namorado, a que ama um homem que bate nela, a bonita que está apaixonada, a que vive o dilema de um amor homossexual. A certa altura o filme se transforma em “Sex and the City” versão classe média carioca.

A noite de curtas teve o ponto elevado com o grande filme chamado “Náufragos” (BA). Nesse curta-metragem estranho o cotidiano precisa de um pouco de cinema, e então a rotina do velho casal Dirceu e Odete é direcionada por toques fantásticos, que remetem a metáforas sobre a busca pelo tempo perdido e a fronteira entre vida e morte. Os outros curtas da noite foram “Traz Outro Amigo Também” (RS), relato baseado no filme de detetive, e “Ovos de Dinossauro na Sala de Estar” (PR), interessante retrato biográfico de uma mulher que mantém viva através de imagens a paixão por seu marido já morto.