6º CineOP (2011) – programação
Mostra de cinema mineira inicia dia 15 de junho
Por Luiz Joaquim | 25.05.2011 (quarta-feira)
A segunda grande ação cinematográfica do ano promovida pela Universo Produção, de Minas Gerais, tem início dia 15 de junho (seguindo até dia 20). É a CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto, que junto a Mostra de Tiradentes (em, janeiro, sobre o cinema contemporâneo brasileiro) e a Mostra de BH (em outubro, focando o mercado cinematográfico) forma com o CineOP um projeto audacioso da produtora chamado “Cinema sem Fronteiras”.
O perfil da mostra em Ouro Preto está vinculada à história e preservação do cinema nacional. Neste ano a programação, gratuita, exibirá 77 filmes, sendo 15 longas, seis médias e 56 curtas, sendo cinco pernambucanos: “Acercadana”, de Felipe Calheiros, “Aeroporto”, de Marcelo Pedroso; “Mens Sana in Corpore Sano”, de Juliano Dornelles; “Praça Walt Disney”, de Renata Pinheiro; e “Janela Molhada”, de Marcos Enrique Lopez.
Além dos tradicionais lançamento de livros, encontros e seminários sobre preservação de filmes, este 6º CineOP promove uma grande homenagem ao midas do Chanchada brasileira, Carlos Manga. É o seu “O Homem do Sputinik” (1959), o filme que abre o evento, dia 16; e dará abertura para um debate sobre a importância e o contexto do gênero cômico, com a exibição também de “Nem Sansão Nem Dalila” (1954) e “Matar ou Correr” (1954) – ambos de Manga -, além de “Aviso aos Navegantes” (1950), de Watson Macedo, e “Carnaval Atlântida” (1952), de José Carlos Burle. Outras infos em (www.cineop.com.br).
Abaixo, mais infos a partir do release de divulgação
Neste momento em que o cinema brasileiro tem conseguido produzir consistentemente filmes de grande sucesso de bilheteria, nos quais se destacam principalmente as comédias (com filmes como A Mulher Invisível, Divã, A Grande Família e as séries Se Eu Fosse Você e Os Normais que, juntos, tiveram mais de 21 milhões de espectadores), a 6a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto mergulha no passado e resgata aquele que foi o mais popular e bem sucedido gênero cômico da história do cinema brasileiro: a chanchada.
Filmes, debates e seminários serão programados para discutir esse que, talvez, seja o principal gênero do cinema brasileiro das décadas de 30, 40 e, principalmente, 50. E, no centro dessa discussão, estará um de seus principais representantes: o montador, roteirista e diretor carioca Carlos Manga, homenageado desta edição da CineOP.
CHANCHADA: A COMÉDIA BRASILEIRA POR EXCELÊNCIA?
Embora possam ser encontradas características definidoras da chanchada em filmes brasileiros produzidos desde o começo do século passado, é no início do cinema sonoro, na década de 30, que surge a chanchada como a conhecemos, uma vez que a música – em especial a carnavalesca – é característica fundamental do gênero.
Esquemática e por vezes elementar em seu início, alimentando-se do teatro e do rádio, a chanchada foi evoluindo e refinando-se ao longo dos anos, passando a ter um tom mais debochado, com paródias do cinema americano e da política nacional, até atingir seu apogeu na década de 50, com as produções da Atlântida e graças ao trabalho de realizadores como Watson Macedo, que terá seu longa Aviso aos Navegantes (1950) programado na 6a CineOP.
“Em sua segunda edição, a CineOP já havia abordado os anos 50 pelo enfoque dos independentes. Agora, retornamos à década, mas pelo prisma das chanchadas, em especial as da Atlântida. Nem a Vera Cruz, com seus filmes de boa imagem técnica e tom um tanto apático, nem os independentes críticos, com sua precariedade material e força criativa (Nelson Pereira à frente, com Rio 40 Graus e Rio Zona Norte), tiveram a penetração, para além dos estudos de cinema, do conjunto de chanchadas do período de ouro da Atlântida”, explica Cléber Eduardo, colaborador da temática histórica da 6a CineOP.
Como bem lembra o professor e pesquisador João Luiz Vieira, colaborador da temática preservação, “a chanchada foi bem-sucedida ao reproduzir aqui, de forma competente, o esquema de estrelismo de Hollywood”, alçando à fama nomes como Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte, José Lewgoy, Zé Trindade e Zezé Macedo, entre tantos outros.
O sucesso popular das chanchadas veio acompanhada de uma repulsa em igual intensidade por parte de críticos e intelectuais da época. Ainda segundo João Luiz Vieira, “a chanchada sempre foi pobre, baixa e vulgar nos seus títulos e narrativas, segundo uma crítica que também condenava a picardia sexual, em geral sustentada por argumentos que revelavam preconceitos raciais e de classe”.
O poder potencialmente subversivo da chanchada só foi compreendido bem mais tarde, em especial após o ensaio “Cinema Brasileiro: Uma Trajetória no Subdesenvolvimento”, de Paulo Emílio Sales Gomes, que enfatizou a importância cultural de um gênero que, durante três décadas, foi a única ligação entre o cinema brasileiro e seu público.
Para contextualizar a ebulição de novos diretores nesse período dos anos 50, não necessariamente vinculados à chanchada, estão programados ainda na 6a CineOP os longas de estreia de Roberto Pires, Redenção, e Roberto Farias, Rico Ri à Toa, cujos processos de restauração serão discutidos no 6o Seminário do Cinema Brasileiro: Fatos e Memória.
A temática desta edição também será debatida na mesa “A Chanchada no Contexto dos Anos 50”, que contará com a participação da pesquisadora Sheila Schvarzman, dos professores Afrânio Catani e do Maurício R. Gonçalves agendado para o dia 18 de junho, a partir das 10h, no Centro de Convenções.
CARLOS MANGA E A ARTE DA PARÓDIA
José Carlos Aranha Manga nasceu no Rio de Janeiro, em 06 de janeiro de 1928. Amante do cinema e da música norte-americanas (a ponto de ter fundando, ainda na juventude, um fã clube de Frank Sinatra), Carlos Manga – como passou a assinar seus trabalhos por orientação de seu então chefe Luiz Severiano Ribeiro Júnior – foi um dos principais diretores do período de ouro da chanchada, ao lado Watson Macedo.
Abandonou o curso de direito no segundo ano para iniciar sua carreira na Atlântida por baixo, como ajudante de carpintaria, apenas para poder estar próximo daquele ambiente que tanto o fascinava: o set de cinema. Foi galgando posições na Atlântida – almoxarife, contra-regra, assistente de produção, de montagem, de direção – até chegar à sua grande chance em Carnaval Atlântida (1952), de José Carlos Burle, onde dirigiu dois números musicais nos quais já deixava sua marca: um número com Dick Farney em meio a um jogo de luzes e elaborada coreografia, e outro onde o mesmo Dick Farney e Nora Ney cantam com um acompanhamento jazzístico, rompendo com o vínculo direto entre a chanchada e as marchas carnavalescas. O filme também estará na programação deste ano.
Sua estreia na direção se dá com Dupla do Barulho (1953), já com a dupla ícone da chanchada: Oscarito e Grande Otelo. Fez na sequência Nem Sansão Nem Dalila (1953) e Matar ou Correr (1954), ambos programados para a homenagem ao diretor na 6a CineOP, em que deixa clara sua admiração pelo cinema norte-americano: os filmes são paródias de grandes sucesso da época – respectivamente Sansão e Dalila, de Cecil B. De Mille, e Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann.
Segundo o crítico Jean-Claude Bernardet, Nem Sansão Nem Dalila é um dos primeiros filmes explicitamente políticos realizados no Brasil, impressão que Carlos Manga corrobora: “Gosto demais do filme, porque eu era um menino de 24 anos e demonstrei o meu lado político contra um homem que era a força: Getúlio Vargas. Eu faço uma crítica muito grande a ele, com Oscarito o imitando. Para a minha idade na época, acho até que eu me arrisquei um pouco em fazer aquilo. Hoje, é considerado um clássico”.
A paródia, uma das principais características de sua obra, volta com força em uma de suas comédias mais célebres: O Homem do Sputnik (1959), também programado para a homenagem à Carlos Manga. O filme marca a estreia de Norma Bengell e Jô Soares no cinema e representa uma paródia à guerra fria, sobrando ironia e deboche para russos, franceses e norte-americanos.
“Essa facilidade para imitar, com o cuidado de não ficar igual ao modelo, de modo a expor o patético do imitado por meio do patético da imitação, não se limitava ao tipo de cinema e interpretação por ele desenvolvidos. Manga era assim na vida pessoal, com suas performances de Fellini e Frank Sinatra. Nos set de O Homem do Sputnik, imitou Brigitte Bardot para Norman Bengell imitá-lo. Fazia o mesmo nos filmes com Oscarito. O autêntico não importava, pois o falso é sempre mais risível”, explica Cléber Eduardo.
Nos anos 60 começa a flertar com a TV, a convite de Chico Anysio, com o programa “O Riso é o Limite”, para a antiga TV Rio. Esse veículo o acompanharia ao longos das próximas décadas, em programas como “Chico Anysio Show” e o polêmico “Quem Tem Medo da Verdade?”, pela TV Record.
No início da década de 70 morou na Itália, onde teve a oportunidade de conhecer a famosa Cinecittá e trabalhar com seu grande ídolo, Federico Fellini. Em seu retorno, realiza ainda alguns filmes, como O Marginal (1974), Assim era a Atlântida (1975) e Os Trapalhões e o Rei do Futebol (1986), o último de uma carreira prolífica de 32 filmes, para então se dedicar cada vez mais à TV e publicidade.
A carreira de Carlos Manga, sua relação com o humor paródico da Atlântida e as marcas desse espírito que permanecem na produção contemporânea serão tema de um debate no dia 17 de junho intitulado “Carlos Manga, Um Olhar Paródico”, com a presença do homenageado, da atriz Norma Bengell e os convidados aguardando confirmação, o cineasta Julio Bressane, do ator e diretor José Celso Martinez Corrêa, o diretor Guel Arraes. O encontro ocorre a partir das 15h, no Centro de Convenções.
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