FORTALEZA (CE) – Começou a ficar interessante a competição pelo troféu Mucuripe aqui no 21o Cine Ceará: Festival Ibero Americano, que encerra nesta quarta-feira. Depois do longa-metragem curitibano “O Coro”, de Werner Schumann, e o cubano “Bilhete Para o Paraíso”, de Gerado Chijona, a noite de sábado exibiu, até aquele momento, talvez o mais forte concorrente. Foi o colombiano “Todos os Teus Mortos”, de Carlos Moreno, antecedido pelo também competente (por razões distintas) “Assalto ao Cinema”, o debut num longa da mexicana Iria Gomez.

Moreno já chamara a atenção no Festival de Gramado em 2008, quando seu primeiro filme, “Perro Come Perro” levou o prêmio da crítica e três Kikitos: direção, fotografia, e ator para Marlon Moreno, e Óscar Borda. Aqui em Fortaleza, o seu segundo longa de ficção prendeu a respiração de toda a plateia durante 88 minutos com uma história simples e tensão extremamente bem administrada sob a pauta do realismo fantástico.

O princípio é simples. O humilde camponês Salvador, ou ‘Biscoito’, como é conhecido na província onde mora e é humilhado, acorda e vai trabalhar na sua plantação de milho. Lá, descobre uma trilha simetricamente perfeita que o leva da estrada milharal adentro. Ao final da trilha surge uma circunferência enorme e perfeita, na qual, no centro, estão empilhados cerca de 50 corpos mortos, mas sem nenhuma marca de sangue ou violência; com aparência saudável até.

Desperado, Salvador tenta avisar sobre o massacre ao prefeito, à polícia, à imprensa mas não consegue a atenção de ninguém pois é dia de eleição, e nada parece mais importar. É belíssima a forma como Moreno compõe o passo a passo da descoberta por todos, numa composição fotográfica que lhe rendeu inclusive o prêmio da categoria no 27o Festival de Sundance, nos EUA, dedicado ao cinema alternativo; além do grande prêmio do júri na competição Ibero Americana do Festival de Miami. Há ainda uma forte leitura política latino-americana que pode ser observada em “Todos os Teus Mortos”. Carlos Moreno é mesmo um nome a ser guardado. Veja o trailer do filme no link abaixo.

Do México, Iria Gomez, aos 33 anos, já mostra grande intimidade na linguagem cinematográfica neste seu primeiro longa focando a adolescência de seu país na figura de quatro jovens, três garotos e uma menina. Dividindo o tempo entre a grafitagem, o rap e a maconha, todos têm problemas (alguns mais, outros menos) de relacionamento com a família, e decidem assaltar um cinema. Animados com a ‘brincadeira’ e o dinheiro fácil, parecem não perceber muito bem a dimensão do que isso significa.

Impressiona o domínio de Iria na condução de tensão e narrativa na sequência do assalto, propriamente, não deixando a desejar para nenhum filme do gênero. Tudo, entretanto, é um pano de fundo para sugerir uma séria reflexão do ponto de vista social entre a juventude mexicanca.