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Festivais

21o Cine Ceará (2011) – noite 5

A ruina da vida em Mãe e Filha

Por Luiz Joaquim | 13.06.2011 (segunda-feira)

FORTALEZA (CE) – A noite de domingo do 21o Cine Ceará: Festival Ibero Americano de Cinema trouxe à luz mais um trabalho cearense, só que dotado de um alcance universal e profundidade humana comovente. Trata-se de “Mãe e Filha”, segundo longa-metragem de Petrus Cariry, realizado maestralmente em janeiro, por 20 dias, no distrito de Cococi, a cerca de 600 quilômetros de Fortaleza.

Petrus ocupou-se como produtor, roteirista, fotógrafo e outras funções desta obra criada por uma equipe de apenas 12 pessoas, ao custo de R$ 150 mil (incluindo despesas para a transferência para película). Impressiona como, com muita leveza e propriedade, o filme dialoga tanto com a escola russa de Sokurov, Tarkovski (1932-1986) e Paradjenov (1924-1990), quanto com o cinema contemporâneo do tailandês Apichatpong Weerasethakul.

Em coletiva hoje pela manhã, Petrus lembrou que já filmara em Cococi, uma cidade fantasma, em 2006 quando fez o curta “Dos Restos e das Solidões”. “E pretendo voltar em dez anos, quando as ruínas estiverem mais degradadas, para terminar uma trilogia”, adiantou.

Com a ficção “Mãe e Filha”, Petrus cria um universo oprimido pela morte que cerca a mãe Laura (Zezita Matos). Ela vive sozinha, deixada pelo marido, numa cidade fantasma também abandonada. Depois de anos, Laura recebe a filha Fátima (Juliana Carvalho) vinda de Fortaleza e trazendo um sonho frustrado para a mãe.

O processo de apego de Laura e desapego de Fátima vem ladeado pela figura etérea de quatro cavaleiros (vaqueiros) que parecem velar pelo lugar. A determinação de Laura em manter o sonho vivo é angustiante para o espectador, e Petrus a realça muito bem não apenas pela mise-en-scene, quando incorpora inclusive uma pintura do inglês John Everett Millais (“Ofélia”), mas também pela vigorosa, sombria e potente trilha sonora criada por Hérlon Robson – inlcuindo ai a música “The funeral of Queen Mary”, de Henry Purcell, que ficou famosa ao ser incluída em “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick.

Serão diversas as leituras que “Mãe e Filha” irá ganhar daqui por diante. Uma delas pode tranquilamente traduzi-la como um filme de horror. Mas parece não haver muita dúvidas sobre a presença da morte e do doloroso processo que é o seu luto. A cidade está morta, o passado de Laura está morto, a relação com sua filha também, e sua última esperança, quando finalmente chega, também vem sem vida. A única força que parece persistir é a fé de Laura. Inabalável, tocante.

A noite de domingo encerrou com a superprodução burocrática vinda da Espanha, “Pássaros de Papel”, de Emilio Aragon, sobre artistas do teatro vaudeville que tentam seguir a vida após os traumas vividos nos anos da ditadura franquista.

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