21o Cine Ceará (2011) – noite 6
Ficção do Ceará não convence
Por Luiz Joaquim | 14.06.2011 (terça-feira)
FORTALEZA (CE) – A expectativa era grande aos fortalezenses na noite de segunda-feira no 21o Cine Ceará: Festival Ibero Americano de Cinema, uma vez que acontecia a primeira exibição pública de “Homens com Cheiro de Flor”, novo longa-metragem de Joe Pimentel, realizador cearense que construiu carreira interessante com curtas e co-dirigiu o sucesso “Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito” (2008). O resultado foi, entretanto, frustrante. Mas não pareceu desapontar um Theatro José Alencar lotado que se identificou com o humor deste policial cearense.
Ao contrário do anterior docudrama espírita, Pimentel agora filmou um roteiro, de Emmanuel Nogueira, pelo qual conta a trajetória de três matadores no Sertão cearense. Deodato, com mulher e filho, e planos de encerrar a “carreira”; o atrapalhado Zé Galego, que entra no ramo à força; e Custódio, um ex-policial que vê na pistolagem uma maior fonte de renda. Todos trabalham para o prefeito da cidade, Belizario e todos acabam voltando-se entre si em algum momento.
O certo é que a estrutura narrativa de “Homens com Cheiro…”, com Pimentel apresentando em blocos independentes o processo de iniciação de cada pistoleiro para, ao final, amarrar as pontas e resolver toda a história, soa cansado. Há também dois núcleos apáticos, um romance de Custódio com a esposa de Deodato, além da amizade do filho deste último com uma garota.
Os diálogos são frágeis e as interpretações também soam over; com uma pequenina ressalva para ator de Zé Galego, com bom timing para o humor, enquanto Deodato, ao contrário, está sempre tenso. Aqui, nos bastidores, comparou-se o filme entre um Tarantino (“Pulp Fiction”) e um Afonso Brazza, realizador brasiliense, falecido em 2003, conhecido pelos toscos filmes de ação, como os do pernambucano Simião Martiniano. Na verdade, a nos, o novo filme de Pimentel soou como um Robert Rodriguez cearense (a partir do original “El Mariachi”, 1992) e, assim sendo, “Homens com Cheiro de Flor” nos chega hoje com duas décadas de defasagem estilística.
Antes do cearense, ainda na noite de segunda-feira, foi exibido o argentino “Língua Maternda”, de Liliana Paolinelli, que trata com humor o caso de uma senhora (Cláudia Lapacó, boa concorrente ao troféu de melhor atriz aqui), que descobre a opção homossexual da filha de 40 anos, e casada já há 14. Depois do susto, ela passa a querer entender o universo homossexual feminino, gerando algumas situações cômicas.
Com o rigor e a fluência técnica própria dos bons filmes argentinos, “Linga Materna” corre bem. É, entretanto, inofensivo. E dissolve da cabeça do espectador logo após o seu final, levando com ele todas as questões que levantou durante a projeção.
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