4º Paulínia (2011) – noite 3
Memória sentimental pauta Paulínia
Por Luiz Joaquim | 11.07.2011 (segunda-feira)
PAULINIA (SP) – A primeira noite, na sexta-feira passada, da mostra competitiva deste 4o Paulínia Festival de Cinema já iniciou dando uma dimensão da boa qualidade da programação e da adesão do público desta edição, que deverá se tornar histórica. Para aquela noite, a combinação explosiva entre o lançamento do esperado filme de Selton Mello, “O Palhaço”, além do bastante pessoal documentário de Lúcia Murat, “Uma Longa Viagem”, somado ao show de Caetano Veloso e Seu Jorge numa tenda ao lado do cinema após a sessão, trouxe uma multidão ao Theatro Municipal.
Sua capacidade de 1.300 lugares não foi suficiente para receber centenas de pessoas que ficaram do lado de fora, o que obrigou a produção do festival a promover uma segunda sessão de “O Palhaço” naquela mesma noite. Segunda sessão vista por cerca de 500 pessoas que insistiram em esperar do lado de fora sob um frio de 7 graus centígrados.
A mesma iniciativa foi promovida na noite de sábado, para “Meu País”, a estreia num longa-metragem em ficção de André Ristum. O filme, entretanto, não provocou tanto impacto como “O Palhaço”. É um produção cuidadosa, com trama delicada, e bom e afinado elenco, formado por Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabella e Paulo José (também no filme de Selton).
Santoro é um empresário que mora na Itália e volta a São Paulo com sua esposa européia (Anita Caprioli, com feições próximas da Helena Ramos) para o velório do pai (José). Nisso, reencontra o irmão mais novo (Cauã) viciado em jogo, devendo e desinteressado pela empresa deixada pela pai. Para completar, eles descobrem a existência de uma irmã bastarda (Falabella) e com deficiência intelectual, que ficará sob a responsabilidade deles.
Parece haver aqui, entretanto, uma insuficiente consistência na construção dos personagens (mas, ainda assim, dignificados pela competência dos atores), que permite apenas uma inserção superficial do espectador na tensão vivida pela família formada pelo quarteto. É um problema, considerando-se que esse retorno ao lar serve como ação transformadora do filho mais velho em alguém mais humano.
A projeção inicial, do sábado, foi, ao contrário, empolgante tanto no aspecto temático quanto cinematográfico. Falamos de “Rock Brasília: Era de Ouro”, documentário de Vladimir Carvalho sobre as origens e repercussão de bandas surgidas na Capital Federal nos anos 1980.
Vladimir mescla rico material de arquivo desde os anos 1970, captados pelo próprio cineasta, com depoimentos atuais de Philippe Seabra (da banda Plebe Rude), Dinho, Fê e Flávio Lemos (Capital Inicial), e Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), entre outros.
Vladimir cria com estes elementos uma bela dinâmica na montagem, que empolga particularmente quando vamos ouvindo a construção daquele momento pela alternância da memória coletiva dos entrevistados. Essa concha de retalhes de lembranças não só reforçam mas ilustram infos que vão desde a referência punk inglesa para a formação da banda “Aborto Elétrico” em 1981 por Russo, Fê e André Petrórius, até a consagração do show em 2008 do Capital Inicial na Esplanada dos Ministérios para centenas de milhares de pessoas.
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