4o. Paulínia (2011) – noite 6
Cannes em Paulínia
Por Luiz Joaquim | 13.07.2011 (quarta-feira)
PAULÍNIA (SP) – Havia uma lacuna, ou apenas uma realidade capenga, no cinema brasileiro que os jovens cineastas de São Paulo Marco Dutra e Juliana Rojas vieram ocupar, e são bem vindos, que é a do gênero fantástico. Mas essa é já uma assertiva equivocada, considerando que o objetivo da dupla não está no susto ou no medo gratuito, mas sim na comunhão do que o gênero pode oferecer para amplificar as sensações de um desconforto social e humano na classe media brasileira.
“Tabalhar Cansa”, primeiro longa-metragem deles, que até a noite de terça-feira soava como franco favorito para vencer neste 4º Festival Paulínia de Cinema, é o melhor exemplo disso, que vinha sendo sinalizado em seus curtas-metragens anteriores; sendo os mais conhecidos “Um Ramo” (2007) e “O Lençol Branco” (2004).
No longa, a história inicia com a personagem Helena (Helena Albergaria) alugando um imóvel para montar um mercadinho e, com o novo negócio, contrata uma emprega doméstica para cuidar da casa e de sua filha pequena. No mesmo momento, o marido (Marat Descartes) perde o emprego e inicia uma maratona de entrevistas frustradas.
Muito organicamente, Marco e Juliana vão nos colocando na dinâmica de funcionamento do mercardinho e, principalmente, nas relações empregatícias entre Helena e os funcionários de lá e com a empregada doméstica. Nesse processo, situações incomuns e misteriosas vão pouco a pouco surgindo no imóvel. As dificuldades vão endurecendo Helena e o alinhamento com o, digamos, sobrenatural, só reforça essa tensão que transfigura a protagonista.
Expectativas em Paulínia foram, para alguns, frustradas. Frustração gerada por um desejo de resposta formal ao sobrenatural que o filme sugestiona. É um desejo que parece soar pequeno quando se entende que o prazer de “Trabalhar Cansa” está na fruição cinematográfica ali desenvolvida.
Antes da ficção, foi exibido o interessante doc “Ela Sonhou que Eu Morri”, de Maíra Buhler e Matias Mariani. O produto, do projeto DocTV, entrevista estrangeiros presos na Penitenciária de Itaí (SP). Com interesse além da investigação do que os levou até ali, o filme os apresenta como pessoas com história próximas ao do espectador – de amor, traição, perde de entes queridos. E, apesar do constante plano fixo da câmera nos entrevistados, deixando a experiência de 75 minutos pesada, o carisma dos bons personagens o torna ao mesmo tempo envolvente.
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