39º Gramado (2011) – noite 5
Mulheres dominam a Serra Gaúcha
Por Luiz Joaquim | 10.08.2011 (quarta-feira)
GRAMADO (RS) – Há uma certa indignação habitando o público mais exigente aqui neste 39º Festival de Cinema de Gramado. Em sua quinta noite competitiva, terça-feira, a disputa entre os longas-metragens latinos exibia “La Lección de Pintura”, do chileno Pablo Perelman. Era o quarto concorrente da categoria (de um total de sete), e o terceiro a ser exibido em DVD.
Quando, no domingo, os próprios apresentadores da cerimônia anunciaram que um atraso na entrega da cópia em 35mm do mexicano “A Tiro de Pedra” obrigava o festival a exibir a versão em DVD, era, até em então, compreensível. Não é tão incomum que isto aconteça. Mas, na segunda-feira, o peruano “Las Malas Intenciones”, de Rosario Garcia Montero, também foi exibido no precário formato, e sem explicações oficiais do festival. A limitação, evidentemente, influi na fruição do filme (fotografia, principalmente).
O único latino a ser exibido em 35mm foi o primeiro da lista, o argentino “Medianeiras”, com distribuição certa no Brasil. A situação deixa uma pulga atrás da orelha, querendo entender de quem é realmente a responsabilidade de um descuido assim dentro de um festival com a experiência de quase 40 anos.
A noite de terça-feira, entretanto foi abrilhantada pela homenagem a Fernanda Montenegro que recebeu o troféu especial ‘Oscarito’. Entregue pelo cineasta Roberto Farias, Fernanda lembrou emocionada que ainda no tempo das Chanchadas, foi fazer um teste para atuar num filme com Oscarito. Ela não passou, mas foi ali que ela conheceu Roberto, como assistente de direção da produção.
Após a homenagem outro longa, com parte de produção (Vídeo nas Aldeias) e direção (Leonardo Sette) em Pernambuco, estreou no Brasil, aqui pelo Rio Grande do Sul. Era as “As Hiper-Mulheres”, co-dirigido também pelo paulista naturalizado carioca Carlos Fausto e, do Xingu (MT), Takumã Kukuru.
O projeto Vídeo nas Aldeias é conhecido por educar e intermediar produções audiovisuais à população indígenas, possibilitando-os a mais uma forma de expressão (e registro) de sua cultural. O drama central de “As Hiper-Mulheres” está no resgate de um ritual feminino, o Jamurikumalu, que combina danças, canções e lutas feitas unicamente pelas mulheres nas tribos da região. A questão é que a nova geração precisa aprender o ritual, para que a cultura não desapareça.
Como a maior parte de filmes com confecção de origem indígena, há sempre um inicial estranhamento cultural por parte do espectador digamos, “branco”. Esse estranhamento naturalmente retarda o envolvimento com a obra. Mas, o que corre a favor no registro de “As Hiper-Mulheres” é a massiva predominância e importância das mulheres no contexto do ritual.
Mesmo com um irregular ritmo inicial, a produção ganha força durante o ritual em si, e ainda oferece belas sequências do ponto de vista de composição cinematográfica (índias dançando na oca; índias dançando em fila indiana). São detalhes que colocam as “As Hiper-Mulheres” numa esfera fora do ordinário.
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