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Críticas

O Planeta dos Macacos – A Origem

Revolta peluda revisitada

Por Luiz Joaquim | 26.08.2011 (sexta-feira)

Não é incomum a indústria do cinema norte-americano remexer o passado de sua história em busca de inspiração para novos projetos, procurando alguma fórmula que deu certo anos antes, dessa vez com o interesse de adaptar a estrutura para os tempos modernos. É o caso de filmes recentes que ressuscitam franquias do passado colocando no cartaz indicativos como “descubra como tudo começou” ou “agora em 3D”, ou talvez as duas coisas.

Entra em cartaz mais um desses projetos, “Planeta dos Macacos: A Origem”, série de filmes que começou muito bem em 1968, em que astronautas durante uma viagem espacial caíam em planeta hostil, povoado por macacos inteligentes, que viviam como humanos em tempos antigos. Aquele ambiente rude era na verdade a Terra no futuro, e o grande comentário crítico proposto era que nossa pouca inteligência para viver harmoniosamente em comunidade gerou guerras que mudaram o curso natural da evolução.

Esta nova etapa da franquia mostra então o marco zero dessa mudança, o ano 1 do calendário da rebelião dos macacos. A trama envolve uma pesquisa científica de Will (James Franco) sobre uma suposta droga que não apenas poderia curar doenças ou lesões no cérebro, mas também melhorar capacidades cognitivas, em termos gerais tornando as cobaias super inteligentes. O teste com os macacos dá certo, mas as relações que surgem entre humanos e primatas geram conflitos.

O filme, terceiro dirigido por Rupert Wyatt, ilustre diretor de filmes pouco conhecidos, parece exemplar comum de cinema com obrigações comerciais, com histórias paralelas um tanto deslocadas do tema central, que se referem a um tipo de evidência emocional em geral presente em filmes de alto orçamento. Até que então surge uma sequência de força incrível, que resgata uma tradição de cinema de insurreição política e insatisfação social, cena que lembra o abate dos operários morrendo como gado em matadouros pela vontade de quem paga salários, em “A Greve”, de Sergei Einsenstein.

O filme mostra diferentes tipos de animais irracionais, e nem todos são macacos. Há exemplares magníficos de patetas humanos, pessoas que se imaginam como figuras de poder por causa de músculos ou dinheiro, e o filme os pune com certo grau de prazer, arrancando dedos ou eletrocutando idiotas.

É um filme que assim como “Star Trek”, de J.J. Abrams, lançado em 2009, revisa de maneira gigante uma franquia que influenciou outros tempos, atualizando através da tecnologia histórias que prezavam pelo entretenimento, mas com qualidade técnica rudimentar. A tecnologia nesta nova edição parece essencial, criando digitalmente macacos que, especialmente através dos olhos, revelam algo como uma humanidade honesta, a sensação forte de que o conflito é entre iguais, mas hierarquicamente divididos por motivos de outra natureza.

Esse parece ser o grande tema do projeto “Planeta dos Macacos”, desde sua concepção inicial, o comentário político sobre as pessoas à margem, a sugestão da revolta armada como resposta inevitável ao desconforto imposto àqueles enquadrados como diferentes do padrão, pertencentes a outras raças ou etnias, consideradas como “inferior” por aqueles na parte de cima da escala social. Parece ainda mais irônico se tratar de macacos, a origem do homem contemporâneo.

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