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Festivais

44o. Brasília (2011) – noite 4

Fantasmas da guerrilha em Brasília

Por Luiz Joaquim | 30.09.2011 (sexta-feira)

BRASILIA (DF) – O terceiro dia competitivo (quinta-feira) deste 44o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro inaugurou a exibição do primeiro longa-metragem inédito da programação. Depois de “As Hiper-Mulheres” (terça), de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro; e “Trabalhar Cansa” (quarta), de Juliana Rojas e Marco Dutra, o público participativo que lotou os 606 lugares do Cine Brasília viu “Hoje”, de Tata Amaral.

Não só pelo ineditismo, mas por a paulistana ter uma filmografia de trabalhos marcantes – “Um Céu de Estrelas” (1997), “Através da Janela” (2000), “Antónia”, (2006) – o novo “Hoje” foi observado com muita atenção. No roteiro, escrito pelas mãos de Jean Claude Bernardet, Rubens Rewald e Felipe Sholl, o drama corre em um dia de 1998, totalmente dentro de um apartamento paulista. Denise Fraga é uma ex-militante que, com a indenização pelo desaparecimento há 24 anos do marido guerrilheiro (o uruguaio Cesar Troncoso), compra um apartamento. Mas, no dia de sua mudança, ele ressurge e ela relativiza seu passado.

De imediato, “Hoje” remete a dois filmes de outro paulista, Toni Venturi: “Cabra Cega” (2005), todo num apartamento usado como um ‘aparelho’ de guerrilha; e “Estamos Juntos” (2011), pelo amigo imaginário da protagonista. Como nos seus primeiros longas, em “Hoje”, Tatá concentra-se no diálogo de um casal enclausurado, sendo sua revolução pessoal e interna mais importante que o cenário em si. Tata sempre apresenta um exercício de virtuosismo fotográfico e de encenação. Em “Hoje”, entretanto, uma combinação de déjà vu com difícil ritmo parece ter encolhido sua força.

Em entrevista coletiva hoje pela manhã, colocamos em questão as aproximações entre os filmes de Venturi e este novo de Tata Amaral sem entrar no mérito valorativo de cada filme. A felicidade de ter um pensador como Jean-Claude Bernardet a mesa proporcionou uma resposta interessante.

Jean-Claude não descarta as aproximações apontadas, mas aponta que o mais interessante aqui é existir uma pluralidade de leituras sobre o período da ditadura. Explicou que, se por um lado o “Cabra Cega” olhava para o personagem de Leonardo Medeiros como um herói, o de Tata coloca seu guerrilheiro do passado num processo de expurgação da protagonista.

Sobre as sequências com imagens projetadas na parede e sobre o corpo de Vera (Fraga) do personagem de Troncoso dialogando com ela, Tata disse que não conhecia o recente filme de Lúcia Murat, “Uma Longa Viagem” (que utiliza os mesmo recurso para falar da memória), mas conhecia “Superbarroco”, de Renata Pinheiro. “Lúcia foi uma consultora sobre o período da ditadura, mas ficou por aí”, afirmou.

Uma das melhores coloções da mesa foi a do ator uruguaio, Troncoso, para uma pergunta a respeito de sua composição de seu personagem: “Eu sou um ator, eu não penso”. Para bons entendedores, há uma precisão nessa resposta que resume muitas outras no que diz respeito ao trabalho do ator. Um trabalho essencialmente traduzível mais em ‘sentir’ e menos em ‘pensar’.

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