35ª Mostra de SP – abertura
O legado de um cinéfilo
Por Luiz Joaquim | 21.10.2011 (sexta-feira)
A 35ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que abriu ontem (quinta, 20) às 21h (20h no Recife) no Auditório Ibirapuera, será histórica. Mas não apenas pelos méritos habituais deste evento que transformou a cultura de todos os brasileiros de conhecer, discutir e refletir sobre o cinema ao longo de três décadas. A razão extraordinária é que desde sua criação, em 1977, a Mostra agora correrá sem seu criador e mentor, Leon Cakoff.
Vitimado pelo câncer, Cakoff faleceu na última sexta-feira, deixando o legado e a responsabilidade do festival para a viúva, Renata de Almeida. A companheira, que esteve ao lado dele na diretoria do festival desde 1989, apresenta a partir de hoje cerca de 250 títulos em duas semanas de programação espalhada em 22 salas da capital paulista. Sem perder o fôlego, Renata participou da cerimônia de abertura com uma homenagem ao marido.
Sob condução do crítico Rubens Ewaldo Filho e da apresentadora Marina Person, a abertura, para convidados, contou com a exibição da versão restaurada de “Viagem à Lua” (1902), de Georges Meliès, e de “O Garoto da Bicicleta”, longa-metragem dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, que venceu o Grande Prêmio do Júri em Cannes 2011.
Só hoje (sexta, 21), seguindo até 3 de novembro, a Mostra abre suas portas para o público. Pode-se dizer que uma das principais características desta 35ª edição, cujo pôster mostra Piteco, o personagem de Maurício de Souza, brincando com sombras numa caverna, é o ineditismo dos filmes estrangeiros. De um modo geral, a proposta curatorial é a mesma, ou seja, disponibilizar o cinema contemporâneo mundial que está produzindo e quais as tendências, temáticas, narrativas e estéticas predominando no mundo.
Nesse sentido, alguns títulos são imperdíveis para quem quer entrar nesse universo. Um deles é o elogiadíssimo “Fausto”, de Aleksander Sokurov, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2011. Atenção também para “O Amor Não tem Fim”, de Julie Gavras; “Habemus Papam”, do italiano Nanni Moretti; “A Ilusão Cômica”, do francês Mathieu Amalric; “Low Life”, de Nicholas Klotz e Elisabeth Perceval; “As Neves de Kilimanjaro”, de Robert Guédiguian; “Era Uma Vez na Anatólia”, de Nuri Bilge Ceylan, vencedor Grande Prêmio do Júri em Cannes 2011; “Caverna dos Sonhos Esquecidos”, documentário em 3D de Werner Herzog; “Pater”, de Alain Cavalier; “Mundo Misterioso”, de Rodrigo Moreno; e “Sorelle Mai”, de Marco Bellocchio.
A Mostra também vai oferecer uma painel grande de novíssimos filmes brasileiros prontinhos para começarem a virar notícia, principalmente pelo histórico de seus realizadores. São 73 filmes entre curtas e longas. No começo da fila, “As Canções”, de Eduardo Coutinho, que falou aoCinemaEscrito em junho, no Cine Ceará, sobre esse projeto (veja link abaixo). De Coutinho, a Mostra ainda exibe seu clássico “Cabra Marcado para Morrer” (1964-1984). Beto Brant também apresenta seu “Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios”. Detalhe que este é o primeiro filme de Brant a partir de um romance de Marçal Aquino, as outras vieram de novelas e contos do escritor.
De lsa Grinspum Ferraz, vale olhar “Marighella”, sobre o militante baiano do título (1911-1969), que por décadas combateu a injustiça social brasileira. Além de “Cabra Marcado…”, outros clássicos verde-amarelo também estão apontados: as chanchadas “Carnalva Atlântida” (1952), “Matar ou Correr” (1954); “O Homem do Sputnik”, e, de Cacá Diegues, “Xica da Silva” (1976).
Como se não bastasse, a Mostra aproveita o lançamento do livro “Conversas com Scorsese”, de Richard Schickel, e exibe versão digital restaurada de “Táxi Driver”, que estreou no Festival de Berlim deste ano. Outro clássico em cartaz na Mostra é “1900”, de Bernardo Bertolucci; e “Laranja Mecânica”, de de Stanley Kubrick. O evento, que sempre traz vários convidados renomados do cinema (este ano mais de 20), destaca agora a presença do canadense Atom Egoyan (de “O Doce Amanhã”), em São Paulo para ministrar uma oficina sobre técnicas de filmagens.
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