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Festivais

44o. Brasília (2011) – noite 7

As dores do amor sob observação no serrado

Por Luiz Joaquim | 03.10.2011 (segunda-feira)

BRASILIA (DF) – Não restou dúvidas que o último longa-metragem em competição no 44o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, exibido domingo, foi o mais popular entre o público brasiliense. Era o documentário “Vou Rifar meu Coração”. A carioca Ana Rieper passeou pelo Brasil colhendo não só o depoimento de cantores de música romântica popular (ou brega, como queiram), mas também os de seus fãs, sendo a questão uma só: o sofrimento pelo amor, seja pelo abandono, seja pela traição do companheiro(a).

Por essa vereda, Rieper alterna falas de gente como Odair José, Wando, Amado Batista, Lindomar Castilho, Nelson Ned, Agnaldo Timóteo e a nova geração, incluindo os pernambucanos Rodrigo Mell (Banda Kitara) e Walter de Afogados (“Moranguinho do Nordeste”), revelando seus interesses e inspirações na composição de, hoje, clássicos como “Moça” (Wando), “Mulher de cabaré” e “Luz Negra” (de Roberto Muller) e “Vou tirar você desse lugar” (Odair), além da de Castilho, que empresta o titulo ao documentário.

São canções que ilustram a vida personagens de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e outros lugares, encontrados pela ótima pesquisa da produção. É o caso de seu Omar (prefeito de Monte Alegre, SE) e suas duas esposas, ou do jovem inexperiente que se casou com uma prostituta ao visitar um cabaré pela primeira vez, ou ainda do frentista Maguila, cuja maior dor da vida foi ser abandonado pela esposa.

Como em qualquer outro doc. sobre um tema tão vasto, sente-se ausências de alguns nome importantes no assunto música brega mas, apesar dos ótimos personagens e depoimentos em “Vou Rifar Meu Coração” o grande problema parece ser uma certo reiteração do assunto em seu último terço de duração; além da inserção do romance homossexual, este sem força (pelos personagens fracos) parecendo estarem ali apenas como o registro de uma cota social.

Este último caso, em entrevista coletiva na tarde de segunda-feira (03), Ana esclareceu que na pesquisa realizada sobre o universo das músicas em questão, o sofrimento em amar uma pessoa do mesmo sexo também está representado, daí a inclusão do casal gay dançando sob um globo de luz num aparente cabaré.

“Há uma música de Roberto e Erasmo Carlos que foi escrita para Agnaldo Timóteo que entraria cobrindo essa imagem. Fala da vontade de gritar alto e para o infinito o amor que um sente pelo outro, mas não pode. Infelizmente não conseguimos os direitos autorais e cobrimos esta cena com uma música de Fagner”, explicou a diretora.

Outro ponto bastante enfatizado na coletiva, foi a ausência, no filme, de uma menção mais explícita ao caso do envolvimento entre Lindomar Castilho e o assassinato de sua segunda esposa, Eliane de Grammont, em 1981. E, à proposto, durante a exibição no domingo, alguém na platéia gritou alto ‘Assassino!” ao Lindomar aparecer na tela. Ana explicou que embora ela tenha tentado extrair um depoimento mais objetivo de Lindomar sobre esse assunto durante duas horas de conversa, não logrou sucesso; além do fato de o foco de seu documentário estar em outra direção.

O mais problemático, entretanto, ficou com o encerramento do filme, sem a menor força que apresentou tão bem em sua primeira metade. No início, tivemos um belo exemplo de como segurar a grande platéia do histórico Cine Brasília, fazendo-a cantar junto com os músicos na tela.

CURTAS
Outra trabalho forte apresentado na noite de domingo foi o curta paulista “L”, de Thais Fujinaga. Conta a história de Teté (Sofia Ferreira), garota de 11 anos, magrinha e que usa (e sofre com) sapatos menores que seu tamanho para esconder que seus pés estão crescendo. Ao conhecer o descendente de chinês, Hector (Luís Mai King), que sofre com o apelido de ‘ japonês pichaim’ , eles vão descobrir que ser diferente não é um problema.

“L” é um filme completo em todos os sentidos. Seja pela discurso sóbrio e com timing perfeito no desenvolvimento narrativo, seja na propriedade técnica e estética. É some-se a tudo isso um poder cativante impressionante. É um forte candidato ao titulo de melhor curta do festival.

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