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Festivais

5o.CineBH (2011) – dia 3

As diferentes imagens do cinema

Por Luiz Joaquim | 04.10.2011 (terça-feira)

BELO HORIZONTE (MG) – Algo interessante que acontece em festivais de cinema é a oportunidade de ver em sequência filmes de naturezas distintas, e nesse encontro perceber uma estranha relação entre eles, ligações complementares ou opostas que surgem apenas no contexto do festival. No terceiro dia do Cine BH foram exibidos os longas internacionais “Post Mortem” (Chile, 2010), de Pablo Larraín, e “Caminho para o Nada” (EUA, 2010), de Monte Hellman.

Larraín é um realizador jovem, 35 anos, e agora em seu terceiro longa-metragem parece interessado em fantasmas do passado, aspectos talvez de sua formação no Chile. O filme é sobre um homem comum cujo trabalho é anotar descrições médicas durante autópsias. A história se passa em 1973, pouco antes do golpe militar que derrubou Allende e iniciou a ditadura de Pinochet.

Não é um filme diretamente político, a narrativa é guiada por sensações do protagonista, homem frio e de poucas palavras que não tem preocupações relacionadas com o bem coletivo das pessoas. Ele apenas observa apaixonado a vizinha, uma dançarina de bares noturnos, enquanto o tema “opressão” surge naturalmente de acordo com acontecimentos históricos, sendo uma das cenas mais fortes a descrição detalhada da morte de Allende.

As imagens possuem uma interessante textura anos 1970, e isso parece ser a maior força do filme, a capacidade de simular uma época não apenas pelas roupas, carros e penteados, mas através da imagem em 35mm. É uma elaborada concepção visual que em alguns momentos sugere que o filme foi feito nos anos 1970 e encontrado por acaso em 2010.

Hellman, ao contrário, é um diretor experiente, 79 anos. Ele teve participação ativa no momento histórico “Nova Hollywood”, nos anos 1970, fazendo filmes brutos e inteligentes sobre carros em alta velocidade e violência moral. Um dos mais conhecidos é “Corrida Sem Fim” (1971).

Neste novo longa-metragem, Hellman filma com câmera digital, uma revisão moderna do passado do cinema. Já na primeira cena vemos um dvd com um nome escrito com caneta, “Road to Nowhere” (título original do filme), e temos aí a familiaridade de um filme pequeno, quase amador, no sentido da ausência de um tratamento rigoroso da imagem, caso do filme de Larraín.

Enquanto “Post Mortem” se esforça meticulosamente em recriar sensações do passado, temos aqui o caso de um veterano se adequando a ferramentas de última geração, e a sensação visual é a de filmes ruins para a TV, com aquele tipo peculiar de iluminação sem nuances e atuações precárias, aspectos que em alguma medida reforçam o tema central do filme.

A história é sobre o próprio cinema, um filme dentro do filme, em que um diretor fictício serve como fantoche para Hellman falar sobre a indústria e o ato de criar histórias ficcionais a partir do mundo real. Há uma complicada trama sobre assassinato, corrupção e clima policial, mas nada disso realmente importa, o interesse parece ser como o cinema se apropria desses casos reais e cria algo totalmente diferente.

Parece um filme instigante do ponto de vista de um autor explorando novos caminhos, embora o uso de técnicas que podemos chamar de “amadoras”, tanto na forma de atuar quanto na produção de imagens digitais, pareça fechar o filme num tipo difícil de fruição.

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