Uma sessão de estupro
Câmera clara 260
Por Luiz Joaquim | 03.10.2011 (segunda-feira)
A editora Martins Fontes relançou, há dois meses, um clássico da produção crítica cinematográfica brasileira. Trata-se “Trajetória Crítica”, originalmente lançado em 1978 pelo mestre Jean-Claude Bernardet, um dos maiores pensadores vivos do cinema brasileiro. O livro (344 págs., R$ 39) é uma antologia de textos escritos do início dos anos 1960 até meados dos 1970, aqui articulados por Bernardet de forma a mostrar o desenvolvimento da crítica de cinema deste período. É uma fonte riquíssima de reflexão sobre a prática de pensar a partir de filmes. Como aperitivo, reproduzimos aqui o primeiro texto do livro, entitulado “Amo o cinema”, do capítulo 1: “Na época do Suplemento Literário” (de O Estado de S. Paulo) datado de 1º/07/1960. Bernardet diz: “Sento sempre nas primeiras fileiras. Não há nenhuma distância respeitável a manter entre eu e o filme. O Prazer de ser esmagado por uma imagem cinematográfica. O prazer der ser esmagado. O corpo sempre oferece, de início, uma certa resistência. O objeto cinematográfico válido é aquele que vence a resistência, aquele que abre o corpo para celebrar dentro de uma missa. Acontece então a grande efusão, os fogos de artifício. Assim, como a pedra penetra a água, irradia ondas circulares, o objeto cinematográfico nos desperta para a vida múltipla: o cigarro que a velha senhora apaga dentro do ovo não é o cinismo para com a sociedade, evoca também os seus desejos sexuais, os desejos de matança, a ânsia de atingir o centro do mundo, volta à infância… O objeto não fica num só plano, ergue-se sempre mais alto, cai sempre mais baixo. Aproximação mítica. Só assim pode viver o mito: não se fixa e não vem quando é chamado. O mito lança-se sobre a gente como a águia sobre o coelho, violentamente. Cruelmente. Uma sessão de cinema é uma sessão de estupro”. Desnecessário dizer que esta obra é leitura mais que obrigatória para quem deseja enveredar para o ofício de pensar o cinema, e escrever a seu respeito.
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Imovision
Imprescindível distribuidora de filmes que correm por fora do circuito pipoca nos multiplex, a paulista Imovision anuncia seus lançamentos para breve. Nesta sexta-feira, já coloca em cartaz (no Sudeste) “Meus País”, de André Ristum, com Rodirgo Santoro, Cauã Raymond e Débora Falabella como irmãos. O filme foi um dos concorrentes do Festival de Brasília, que encerra hoje. Na sexta (14), estreia o francês “A Criança da Meia-Noite”, de Delphine Gleize, com Emmanuelle Devos; e o norueguês “Em Casa para O Natal”, de Bent Harmer. Já dia 11 de novembro é lançado “Se Não Nós, Quem?”, de Andres Veiel, da Alemanha.
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Animage
Além da oferta de filmes de animação de 24 países ao grande público, a terceira edição do Animage, que vai até esta sexta-feira, promove competição com prêmios em dinheiro entre as obras, um importante espaço de vitrine e reconhecimento para realizadores do Brasil e de Pernambuco. Dentre os 66 exibidos no festival, 41 estão na Mostra Competitiva, sendo nove brasileiros. Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul participam com dois filmes cada. Minas Gerais compõe o grupo com uma obra. No total, serão entregues R$ 13 mil em prêmios, além de troféus para categorias técnicas. Os vencedores serão anunciados no Cinema da Fundação, no encerramento.
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Polanski
Dois anos após a polícia em Zurich prender Roman Polanski, o cineasta retornou ali com uma recepção bem diferente, onde foi acalentado com aplausos e reconhecimento na terça-feira à noite, ao lançar seu novo trabalho “Carnage”. Ao subir no palco do Festival de Cinema de Zurique agora, finalmente recebeu a homengem pelo conjunto sua obra, que não pode receber em 2009.
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